Segunda-feira, 6 Maio

«Le Rêve de Noura» por Jorge Pereira

Um “documento social” sobre a condição feminina na Tunísia contemporânea. 

Depois de um documentário celebrado em Veneza, no ano de 2012, e várias curtas com relativo sucesso, a cineasta Hinde Boujemaa regressa na seção “novos diretores” em San Sebastian com Le rêve de Noura, um drama com toques de thriller e documento social, o qual explora a condição de uma mulher numa Tunísia pós revolução, mas sem grandes alterações no comportamento de género e postura do patriarcado.

Apaixonada por Lassad, Noura vê-se num dilema pessoal e encontra-se “entre a espada e parede” em termos judiciais, quando, apesar de já ter pedido o divórcio, o marido sai da prisão, tendo ela de colocar – temporariamente – uma pausa na sua relação extraconjugal e receber o marido de braços abertos.

Filme complexo nas moralidades e nas restrições impostas pela sociedade, é quase impossível não lembrar neste Le rêve de Noura de Uma Separação e O Passado de Asghar Farhadi. O próprio início é revelador da pressão que os nossos amantes interditos vão sentir durante toda a obra, pois Boujemaa opta por close-ups cerrados e claustrofóbicos que inundam duas das três figuras centrais, opondo amor e repressão, proibição e justiça. Uma cena é particularmente interessante decorre numa esquadra e traça de forma laminar um retrato negro das instituições legais numa democracia ainda muito frágil, agarrada às velhas prelazias e vícios.

Um pequeno e curioso filme que, embora nunca brilhe, consegue apresentar boas prestações (em especial de Hend Sabr e Lofti Abdelli) e um retrato sensato sem ativismos mercantilizados para suceder e triunfar em festivais do ocidente.

Jorge Pereira

Notícias