Quarta-feira, 17 Abril

Sandrine Bonnaire com eira e beira na resistência à quarentena

À conversa com Sandrine Bonnaire em tempos de isolamento social

Num esforço para estreitar laços entre espectadores e o cinema feito em Paris, Marselha, Nice e arredores, a Unifrance tem mobilizado alguns dos seus maiores talentos nos ecrãs – atores e realizadores – a fim de extrair palavras de motivação para estes tempos de quarentena, o que levou a atriz e realizadora Sandrine Bonnaire a conversar com o C7nema.

Aos 52 anos, ela dividiu com Isabelle Huppert a Copa Volpi de 1995, dada pelo Festival de Veneza ao thrillerA Cerimónia” (“La Cérémonie”/ “Mulheres Diabólicas”), de Claude Chabrol. Como realizadora, saiu da Quinzena de Cannes, em 2007 com a láurea da crítica dada pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci) a “O Nome Dela é Sabine” (“Elle s’appelle Sabine“), tocante documentário sobre a sua irmã autista. O seu currículo inclui produções pilotadas por Agnès Varda (“Sem Eira Nem Beira”), Maurice Pialat (“Aos Nossos Amores”) e Patrice Leconte (“Um Homem Meio Esquisito”). Dirigiu ainda “J’Enrage de Son Absence”, uma das sensações da Croisette em 2012, protagonizado por William Hurt, com quem teve uma filha na vida real. Na entrevista a seguir, Sandrine faz um balanço do seu passado nos sets e dá dicas do que assistir neste confinamento.

Um de seus últimos trabalhos de prestígio foi “Une Saison em France”, do chadiano Mahamat-Saleh Haroun, que estreou no Festival de Toronto de 2017. Qual foi a experiência de filmar com Haroun? Que lições tirou dessa experiência?

Com o Haroun, aprendi muito. Ele é um realizador muito exigente, extremamente rigoroso, que busca o essencial. Por vezes, fazíamos um plano por dia. Considera que um único plano pode, por vezes, bastar para uma cena. Por vezes, usa seus atores fora do campo: já não os vemos à imagem, mas ouvimos o que dizem. Nesse filme, ele fala da distinção entre migrantes e exilados. O exilado integrou-se e dobrou-se aos códigos de um outro país, a França no caso. O exilado, ao contrário do migrante, não pede nenhuma ajuda, mas sim um reconhecimento para poder continuar a trabalhar no país, como é o caso do protagonista.

Seu nome encabeça os créditos de elenco de Sans toit ni loi (Sem Eira Nem Beirapt|Os Renegadosbr), filme que deu o Leão de Ouro a Agnès Varda, em 1985. Qual é a importância da obra de Varda para a sua formação como atriz e realizadora?

Quanto à Agnes Varda, devo-lhe muitas coisas. Foi graças a ela que as minhas raízes se fizeram no ofício. Digo sempre que quando encontrei Maurice Pialat, eu era uma flor. Encontrando Varda, transformei-me numa árvore. Isso resume muita coisa. Trabalhar com Varda dava-me a sensação de ser um operário que parte para uma obra. Ela não fazia distinção entre técnicos e atores. Não havia hierarquia no set. Varda procurava uma visceralidade nos meus jogos de atriz. Agnes é alguém que significou muito para mim. Às vezes, não estávamos de acordo nas filmagens, mas acho que eu era muito nova para a perceber. Encontramo-nos muito mais tarde e a nossa cumplicidade começou, realmente, quando eu próprio realizei filmes como cineasta.

Que longas você recomendaria para estes dias de quarentena?

Que filme eu recomendaria? Bem, com ou sem confinamento, eu diria Le Roi de Coeur (O Rei dos Doidospt/ Esse Mundo é dos Loucosbr) de Philippe De Brocca. É um filme sobre a guerra e o aprisionamento. A sua trama decorre durante a Primeira Guerra Mundial. Nela, uma pequena aldeia é invadida pelos alemães. Os aldeões estão a fugir e, agora, só os malucos que estão presos num manicómio é que vão conseguir sair.

Que bons filmes você viu durante este período de isolamento?

Quanto aos filmes que estou a ver neste momento a seleção é bastante variada. Não costumo ver séries porque nunca tenho muito tempo. Recentemente, assisti com minha filha mais velha ao “The Crown”. Foi muito interessante aprender muito sobre a história britânica e, acima de tudo, avaliar até que ponto a rainha tem pouco poder. Também descobri algumas atrizes maravilhosas e atores ótimos.

Que recado motivacional você daria aos cinéfilos?

Já que estou a falar consigo, que é do Brasil, gostaria de dizer que, durante este período de confinamento danço muito. Tenho uma paixão pela dança e, neste momento, danço muito nas canções de Jorge Ben e Gilberto Gil. A música brasileira acompanha-me há muito tempo. E  amo muito o seu país. Eu volto lá quando você mudar de presidente!

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