Sábado, 27 Abril

Silvio Tendler e a moral da História

 Alma Imoral estreia a 8 de agosto no Brasil

Maior documentarista brasileiro quando o assunto é a revisão crítica da História, Silvio Tendler vai lançar o esperadíssimo Alma imoral – um diálogo cinematográfico com o ensaio filosófico homónimo do rabino Nilton Bonder – no dia 8 de agosto. A nova longa-metragem do realizador de sucessos como Anos JK (1980) e Jango (1984) é um convite para o espectador refletir sobre conceitos universais como corpo e espírito, matéria e essência, bom e correto, compromissos e rompimentos. “Sou cineasta, não sou mago, logo, não sei prever em quanto tempo o mundo vai perceber que devemos construir uma economia solidária, que respeite os seres humanos, o meio ambiente, os animais, a diversidade cultural“, brinca Tendler.


Alma Imoral traz uma conversa entre o artista plástico Frans Krajcberg e o rabino Nilton Bonder

O seu .doc mostra que, ao contrário das teorias de Charles Darwin ou da psicologia evolucionista, a compreensão bíblica de corpo e alma inclui uma outra dimensão da missão animal além da procriação: a sua natureza transgressora. Capaz de romper com os padrões e com a moral, a alma é o componente consciente da necessidade de evolução. Com a palavra, Tendler:

Qual é a descoberta mais valiosa que Alma Imoral proporciona aos teus fãs acerca da sua própria origem e identidade como judeu? O que houve de mais revelador e transformador nesse processo?

Alma Imoral, o filme” devolve me uma sensação de pertencimento a uma tribo que é minha enquanto judeu e transgressor e que me mostra que é compatível conciliar tradição e transformação. Precisava fazer este filme para me entender comigo mesmo e me aceitar como sou, um judeu transgressor das normas e dos costumes.

O que existe de mais radical no pensamento do Bonder?

Justamente a ideia de que transformação e tradição mais do que compatíveis são necessários.

Qual é o lugar da estética documental nestes nossos tempos de rachas políticos no Brasil?

Fundamental. De 2017 para cá, já foram lançados três documentários tratando diretamente do impeachment e dezenas de filmes que discutem da moralidade e bons costumes às questões ecológicas. Hoje o documentário está sendo encurralado no ‘corner’ do espetáculo, mas segue mais vivo do que nunca.

Qual é o desenho geopolítico desse teu novo .doc e como essa cartografia dos povos e de resistências dialoga com a tua obra pregressa?

A cada filme, eu vejo me na iminência de retornar aos tempos de “Anos JK” e ter que voltar a defender as liberdades democráticas.

O que o cinema brasileiro hoje encontra de maior desafio no âmbito da política?

Conseguir fazer valer o estado de direito e a pluralidade temática. Defender o futuro de liberdade contra o obscurantismo que pretendem nos impor.

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