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Ethan Hawke sob as bênçãos de Paul Schrader e do LEFFEST

First Reformed

Em meio ao pacote de retrospetiva de produções ligadas à grife autoral de Paul Schrader, o LEFFEST – Lisbon Sintra Festival agendou para este domingo, às 15h30, a sessão da mais nova pepita do mítico cineasta: First Reformed (No Coração da Escuridão), um ensaio moral sobre a impotência da metafísica num mundo de guerras e de terrorismo ecológico. Não por acaso, a projeção coincide com a indicação do filme a uma penca de categorias nos Gotham Awards e nos Independent Film Awards, coroando não apenas a estética de cunho cristão (re)saqueado de Schrader como o talento de Ethan Hawke. Na pele de um capelão tentado pelo demónio do revanchismo, encarnado num colete de explosivos, o ator texano de 47 anos chegou ao ápice da sua carreira. Este ano, ele chegou a ganhar uma homenagem do Festival de Locarno pela sua representatividade contínua nos ecrãs – de janeiro a dezembro, sempre tem algo novo a estrear -, a sua diversidade de papéis e maturidade em cada interpretação que assume. Esta ficou mais clara para Hollywood com seu desempenho na obra mais perturbador do realizador de  Affliction (1997).

Atuar deu-me a consciência da grandeza humana… e também das suas pequenezas“, disse Ethan ao C7nema na Berlinale.

Em Locarno, exibiu Blaze, o seu novo trabalho como realizador, que deu a Ben Dickey o prémio de melhor ator no Festival de Sundance, em janeiro, pelo papel de um músico. “A primeira vez que pisei um festival de cinema, tinha uns 19 anos, era verde… verde na profissão, e tive a tarefa de representar ‘Dead Poets Society’ para uma plateia de japoneses. Tudo o que eu tinha para dizer era o quanto foi ótimo ter trabalhado com Robin Williams, de quem sinto muitas saudades. Acho que agora já tenho mais a dizer… Já estou grisalho, virei pai, dirigi filmes. Nós crescemos”, disse Hawke ao c7nema num encontro no Festival de San Sebastián, em Espanha, quando exibia First Reformed no circuito europeu. “Faço filmes desde miúdo, dos meus 14 anos e, quase sempre, são filmes mais alternativos, muito pessoais, intercalando com algo mais comercial. E tudo acrescenta”.


Blaze

Há quem aponte que Hawke vai ao Festival de Berlim de 2019 (7 a 17 de fevereiro) concorrer ao prémio de atuação pela maneira atormentada como interpreta o lendário pistoleiro Pat Garrett em The Kid, um western realizado pelo ator Vincent d’Onofrio, sobre a morte de Billy The Kid. Quem viu as primeiras imagens, nas mesas de edição de Hollywood, disse que Hawke poderá ter o melhor desempenho dos seus 33 anos de carreira, coroados com quatro indicações ao Oscar. Ele concorreu como ator secundário por Training Day, em 2002, e por Boyhood, em 2015; e disputou a estatueta como argumentistas por Before Sunset, em 2004, e por Before Midnight, em 2014.

No cinema, precisamos de aprender a lidar com o fracasso para saber lidar bem com o sucesso. E, no cinema, por mais que queiramos seguir fazendo filmes autorais, é importante valorizar uma produção mais comercial, de dignidade, que dê dinheiro. Nesse mercado, a liberdade se conquista com acertos de bilheteria. Já estrelei alguns e já fiz muito fracasso”, disse Hawke. “Filmes de ação com atores como eu têm um diferencial saboroso: ao contrário das certezas que temos quando estamos diante de estrelas do género, como Clint Eastwood, com gente franzina como eu, tudo é surpresa. Nunca sabemos se os meus heróis vão acertar os tiros ou ganhar em um combate”.


Before the Devil Knows You’re Dead

Desde 1985, quando fez Explorers (“Foi um fiasco vergonhoso, porque ninguém queria ver crianças a voar”, ironiza o ator), Hawke vem colecionando experiências com grandes realizadores como o mexicano Alfonso Cuarón (Great Expectations), o americano Sidney Lumet (Before the Devil Knows You’re Dead), o francês Luc Besson (Valerian and the City of a Thousand Planets).  Agora é a vez de Schrader, que escalou a estrela para viver um padre ligado às Forças Armadas, cujo filho morreu em combate. Ele é procurado por uma jovem (Amanda Seyfried) cujo marido está envolvido em ações de terrorismo ambiental, colocando a fé do sacerdote em xeque.

Cada filme vai te mostrar novas formas de ser e novas verdades sobre nós mesmos. Quando comecei, apostava no naturalismo, acreditando que todos os personagens tem que ser como nós. Aí chegamos a um Hamlet ou passamos por um filme de Linklater, e tudo se desmonta”, disse Hawke. “Só espero um dia fazer algo na América Latina, pois gosto muito da energia que esse cinema tem. Ele é autêntico, autoral, vivo”.