Um dos filmes do Queer Art, uma das seções do QueerLisboa, este ano é “Inferninho”, que é exibido nos dias 16 e 19 no cinema São Jorge. O festival decorre até dia 22.
Estreado no Festival de Roterdão, conta a história de um travesti, Deusimar (Yuri Yamamoto), que gere o espaço noturno que dá nome ao filme. Por lá circulam os mais diversos tipos humanos, onde o bar funciona como uma espécie de santuário de liberdade num mundo externo hostil – marcado pela ganância e pela supremacia do dinheiro nas relações humanas.
Um dos corealizadores, Pedro Diógenes, que codirigiu o filme com Guto Parente, respondeu a algumas perguntas para o C7nema.
O vosso filme estabelece uma espécie de crítica à uma sociedade fundamentada no dinheiro – e um dos aspetos principais do filme é a transformação do protagonista em relação a ele. Concordam?
Sim. Um dos questionamentos iniciais do “Inferninho” é: ainda é possível o amor prevalecer dentro de uma sociedade em que o dinheiro dita as regras e os interesses se sobressaem aos desejos? Vivemos numa sociedade em que o dinheiro está sufocando as liberdades e a Deusimar (a protagonista) passar por um conflito que reflete essa questão.
Da mesma forma “Inferninho” é também um manifesto pela diversidade e pela tolerância. Esses valores hoje parecem algo ameaçados por alguns movimentos retrógrados.
Aqui no Brasil essa ameaça está clara e explicitada nas eleições que estão ocorrendo esse ano e no golpe que ocorreu em 2016. Atualmente o candidato líder nas pesquisar é um político de extrema- direita, movido por um discurso violento e preconceituoso.
O Inferninho (o local no filme) nasce para falar do amor e da fantasia como possibilidades de resistência dentro de um contexto atual onde direitos básicos são negados, as minorias são rechaçadas e o moralismo se torna cada vez mais dominante. O Inferninho é um espaço de aceitação para pessoas de todas as sexualidades, fetiches e aspirações.
Vocês acham que o filme também desafia, de uma forma algo “pasoliniana”, um certo gosto estético pequeno burguês? Isso é deliberado?
A liberdade que defendemos no filme não poderia ficar apenas no discurso, ela contamina a linguagem e a estética do filme. Queríamos nos distanciar de uma estética realista para falar da realidade.
Como foi a passagem por Roterdão?
A estreia do filme em Roterdão foi excelente. O “Inferninho” foi muito bem recebido tanto pelo público como pela crítica. Muitas pessoas acabavam as sessões emocionadas com o filme e seus personagens.
Já têm novos projetos?
Sim. Eu estou trabalhando em uma nova longa-metragem chamada “Pajeú”, que realizarei em fevereiro de 2019. O Guto Parente também trabalha no seu próximo filme, chamado “O Futuro a Deus Pertence”.