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Jaime Freitas: “O amor é uma força do Universo”

Depois de vários pequenos papéis no cinema (O Capacete Dourado; Cisne) e a presença na TV em trabalhos como Belmonte, Jaime Freitas assume em Amor Amor o seu primeiro papel centra. No filme ele é Jorge, o namorado de Marta (Ana Moreira), que não parece interessado em continuar a sua relação.

O C7nema teve a oportunidade de falar com o ator, que este ano ainda vai surgir nas salas no protagonismo da adaptação da obra de Vergílio Ferreira, Aparição.

Há muito do Jaime na personagem do Jorge?

Acho que há pouco em mim nele…

É curioso, fiz esta pergunta a todos, e todos responderam que havia pouco neles das personagens que interpretaram.

Eu tive muito próximo com o Jorge Cramez a acompanhar a preparação, coisas ligadas ao argumento, etc. Depois, quando ele decidiu que era eu a fazer o filme, houve um tempo em que tivemos muitas vezes a ver coisas para a personagem, referências noutros filmes, livros. Coisas que depois se foram instalando em mim e que me fizeram ver lentamente como esta personagem poderia funcionar, como é que ele funciona, as coisas que faz. É isso que um ator faz.

Então houve uma colaboração direta com o Jorge Cramez na construção da própria personagem?

Sim. Ajudou muito pela proximidade que tenho com o Jorge [Cramez], nós somos amigos há muito tempo.

Vocês fizeram juntos o Rebocador, certo?

Sim, e o Capacete Dourado. Fiz trabalhos como montador com o Jorge. Essa proximidade ajudou muito pois estamos à vontade. E descobri que há certos ingredientes desta personagem que tenho de ir buscar fora de mim. Na verdade, eu tenho-os, mas não é coisa que use no dia a dia. Descobrem-se e depois pratica-se.

Há todo um pensar e refletir antes do filme, mas quando a câmara está lá, isso desaparece. E tem de desaparecer. Lá não podemos estar a pensar, mas antes fazer. Porém, toda essa informação fica em nós, no nosso subconsciente, e cria limites para a personagem não sair fora de pista.

Esta também é a minha primeira longa-metragem em que tenho um papel mais central. Isso fez-me ficar um pouco obcecado de fazer o melhor possível. De conseguir satisfazer o realizador, que ele ficasse contente depois do trabalho estar concluído. Isso criou-me tensão e preocupação, mas as coisas vão-se fazendo aos poucos. Vamos descobrindo, sempre coisas novas.

Na verdade foi um processo criativo entre vocês todos [realizador e atores]?

Sim, lá está. Quando estamos a filmar temos de procurar vida, viver aqueles momentos. Estarmos lá. E quando estamos lá, as coisas todas da preparação ganham uma visão diferente. Aquilo que tínhamos pensado não era bem pensado. Tem de haver um certo descontrolo de deixarmo-nos ir, deixar de pensar demasiado no que estamos a fazer, E confiar na nossa.

Claro, depois ficamos sempre um pouco apreensivos, quando vamos para casa, a pensar se fizemos as coisas bem. mas já está lá e o que interessa é que o realizador fique contente …(…) Acho que o Jorge está contente e todos nós muito orgulhosos.


Jaime Freitas e Nuno Casanovas

Dá minha parte posso dizer que achei que o filme estava verdadeiramente bem…

Sim. O Jorge conseguiu capturar muito bem a essência daquilo que ele estava a tentar refletir. E fê-lo com Cinema. Este é um filme com história e com Cinema. Tem beleza, tem tudo. E reflete toda esta coisa das situações amorosas em que as pessoas se encontram, que é uma coisa que todos nós vivemos no dia a dia (…) que todos temos dentro de nós: o querer estar com alguém, mas também não querer; quando se está numa relação e não se quer estar.

Sim, todas as gerações passam por isso…

Sim e as nossas ações diárias andam à volta disso. As coisas que fazemos para impressionar alguém, ou as que fazemos para que alguém fique connosco. (…) O amor é a força que nos move, que nos faz querer estar vivos. E não quero dizer só o amor romântico. O amor é uma força do Universo. (risos)

Também participou no Aparição do Fernando Vendrell. Pode falar um pouco da sua personagem?

O filme é baseado na obra do Virgílio Ferreira, Aparição. Eu faço de Alberto Soares, a personagem central, que é um professor que vai para Évora dar aulas. Aquilo são experiências que ele tirou da vida dele, mas que criou ali um romance existencialista.

É um professor que vai dar aulas, mas que perdeu o pai e se sente um bocadinho deslocado naquela cidade, ainda um bocado tradicionalista e conservadora. E ele quer descobrir o sentido da vida e quer que as pessoas daquela cidade descubram com ele. Quer despertar a natureza humana, o humanismo. Desprender as pessoas de coisas como a religião. Ele quer que as pessoas se descubram a si mesmas, sem a ajuda de outras coisas. É um filme muito especial. Gostei muito.

E já está completo não é? Creio que vai passar no Fantasporto [e no FESTin]. Já viu o filme?

Vi uma pré-montagem. Não vi com o som montado, por isso considero que não vi.


Jaime Freitas e Victória Guerra em Aparição

E como foi a experiência de trabalhar com o Vendrell?

Foi fantástica. Ele é uma pessoa super generosa e trata muito bem os atores. Respeita muito. É muito cuidadoso, gentil. Foi um grande prazer e fico muito grato dele ter confiado em mim. E acho que ele também ficou contente. Vamos ver como é que tudo corre…

E tem outros projetos, no cinema ou não?

No cinema, agora não. Eu sempre estive por trás das câmeras, como assistente produção, na montagem, etc, e depois é que me deu um impulso para atuar. Eu sempre quis ser ator, mas tinha medo e andava sempre num “vou, não vou”. Depois as pessoas acabaram por me chamar para fazer isto ou aquilo fui estudar. Só em 2013 é que comecei mesmo a levar isto a sério.

Sempre tive um caminho meio acidentado. Não tinha muita fé em mim, mas as pessoas parecia que tinham.

E agora, não tem [fé em si]?

Agora estou muito melhor. Já estou mais confiante, com menos medo.

E é para continuar [a atuar]?

É para continuar. Vamos ver se estes filmes dão um impulso, se são uma rampa de lançamento.

Essa vertente técnica por trás, ajuda-o em estar à frente das câmaras?

Ajuda muito.

E não tem o desejo de um dia passar à realização?

Tenho, tenho. Já tinha e já andei a escrever guiões, mas não quero fazer carreira disso. A minha carreira é ser ator, mas gostava de experimentar. Sempre gostei, sempre quis, mas lancei-me à escrita de guiões, etc. Mas depois acabava sempre por escrever coisas em que queria entrar. Logo, era um sinal que queria era representar.

Realizar pode acontecer, mas só se surgir algo extraordinário…

Mas escrever guiões é já um bom principio?

Sim, sim. Outra coisa que aprendi, quando me envolvi muito na escrita, é que isso também me ajudava a ser ator. Por isso, tudo o que tenho feito, inconscientemente e inadvertidamente, foi um processo para ser ator. Até como assistente de produção, foi perceber a agilidade [que um ator tem de ter]. .