Quinta-feira, 28 Março

Córtex: “tentamos envolver a comunidade local no nosso festival.”

O Córtex avança para a sua 7ª edição. O festival de curtas-metragens decorre em Sintra (Centro Cultural Olga Cadaval) entre os dias 16 e 19 de fevereiro. Uma das novidades esse ano é uma retrospetiva que permite descobrir os primeiros trabalhos de Jane Campion que, anos depois, obteria a consagração com O Piano, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, de 1993. Outro destaque é a recuperação da memória local através da coleção de curtas-metragens Cintra. O C7nema conversou com os diretores do festival, José Chaiça e Michel Simeão, sobre as novidades para edição de 2017.

Um dos destaques desta edição é a mostra de quatro curtas-metragens de Jane Campion. Ela é uma realizadora que afirmou-se no cenário internacional com filmes (como “An Angel at my Table” e “Piano”) fortes a nível estético e temático – neste último caso destacando histórias com um importante sentido de afirmação feminina. Com relação a esses dois aspetos, o que podem adiantar sobre os filmes que vão exibir?

De facto toda a filmografia da Jane Campion expressa uma sensibilidade feminista através dos temas que explora como a condição desigual da mulher na sociedade, o crescer mulher e a sexualidade feminina. As curtas que vamos apresentar não são exceção, o que significa que as primeiras experiências cinematográficas de Jane Campion já demonstravam uma personalidade ímpar no cinema. Jane Campion testa as suas personagens centrais através de um caminho sinuoso que acabará sempre por terminar num afirmação sexual reprimida pelo homem.

As curtas metragens que realizou ainda na Escola de Cinema da Austrália revelam já um sentido estético muito apurado, valendo-lhe a Palma de Ouro no Festival de Cannes com a primeira curta “An Excercise in Discipline – Peel” que iremos exibir no Córtex. “A Girl’s Own Story” fala-nos sobre três amigas que vivem num dos subúrbios da Austrália e lida com a descoberta da sexualidade, incesto e uma família que se opõem à Beatlemania. “After Hours” explora a temática do assédio sexual por parte de uma jovem em relação ao seu chefe, um filme que levanta questões como descriminação, relações de género e as diferentes interpretação dos eventos por parte dos intervenientes. Esta é  a primeira vez que estes filmes serão exibidos no nosso país.

An Exercise in Discipline – Peel

Como surgiu a montagem da sessão “Cintra 35 mm”? Como foi a pesquisa e a descoberta deste material?

O Córtex também é programado para o público de Sintra, e ano após ano tentamos envolver a comunidade local no nosso festival, que ainda é para muitos algo estranho. Com esta mostra de curtas metragens, temos o objetivo de aproximar as “pessoas da terra” ao Córtex, até porque os sintrenses têm uma forte e especial ligação com o sítio onde habitam. O Cintra a 35mm irá abrir uma janela para o passado, revelando imagens inéditas para a maior parte de nós, uma paisagem urbana com quase 100 anos, que nos dá a conhecer um autentico tesouro que documenta a história de Sintra. Sabíamos da existência de filmes produzidos nos anos 20/30 na vila de Sintra e neste sentido abordámos a Cinemateca para saber se existiam cópias destes filmes, algo que responderam afirmativamente.

Esta mesma sessão vai ser musicada. A ideia tem alguma ligação com o antiga forma de se apreciar cinema mudo, por exemplo?

Esse foi o nosso intuito e fez todo o sentido convidar o conservatório de música de Sintra para musicar estes filmes. Uma sessão especial no Córtex acompanhada por um quarteto de saxofones dirigida por Ricardo Pires.

Uma das preocupações do vosso festival é sempre trazer uma mostra de filmes de algum país específico. Este ano a escolha recaiu sobre a Inglaterra, numa parceria com a London Film Institute…

O London Short Film Festival é reconhecido como umas das principais mostras de talentos britânicos do cinema independente, dando também grande visibilidade aos jovens cineastas a cada edição. Um dos pontos fortes do cinema britânico atual no formato da curta metragem é que iremos exibir o urso de prata da Berlinale no ano anterior “A Man Returned” de Mahdi Fleidel. Curiosamente também iremos exibir o urso de ouro que foi para a Leonor Teles com a filme “Balada de um Batráquio“. Philip Ilson, director do LSFF será um dos convidados do Festival Córtex.

Balada dos Batráquios

A competição portuguesa traz 16 curtas-metragens – que, de certa forma, tem sido o formato mais viável para a revelação de novos talentos no país. O que podem adiantar sobre os filmes e o sobre processo de seleção?

O processo de seleção da Competição Nacional é feita ao longo do ano em que os programadores visionam alguns filmes nos festivais de cinema nacionais e internacionais. Posteriormente na fase das inscrições, vamos tendo acesso a quase toda a produção nacional dos últimos dois anos. A seleção é feita obedecendo alguns parâmetros que vão desde os aspetos técnicos até à sensibilidade de cada programador, sempre com a preocupação de querer mostrar cinema ao público.

O vosso festival vai para a 7ª edição, o que demonstra a viabilidade de um projeto diferente no formato (curtas) e na geografia (fora de Lisboa). Como é que vêm essa trajetória?

De ano para ano, temos vindo a cimentar o nosso lugar no circuito dos festivais de cinema, é um evento de extrema relevância que acima de tudo, serve para premiar e mostrar o melhor que se faz no género da curta metragem a nível nacional e internacional. Temos sentido um grande reconhecimento por parte do público e da indústria na medida que já são as produtoras e as agências de curtas metragens um pouco por toda a parte, que nos contatam para inscrever os seus filmes. Todos os anos as inscrições a nível internacional tem crescido substancialmente. O facto do Festival realizar-se em Sintra é uma mais valia, porque além de descentralizarmos um pouco este tipo use eventos, aliamos o cinema à vertente turística que a própria vila de Sintra oferece.

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