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Chico Teixeira: “o Brasil está numa fase de muitas produções e novos talentos”

 

O realizador estar por trás de um dos grandes sucessos alternativos de 2015, Ausência, que adicionou na última quarta-feira (11/05) mais um reconhecimento – o prémio do júri da Crítica do FESTin. O filme estreou no Festival de Berlim em 2015 e seguiu uma importante trajetória de festivais até vencer o de Gramado, um dos mais tradicionais do Brasil.

Ausência narra a trajetória de Serginho, um garoto de 14 anos que vive com a mãe alcoólica e um irmão pequeno depois de a família ter sido abandonada pelo pai. Em conversa com C7nema, Chico Teixeira falou sobre esta trajetória vitoriosa, a grande produção cinematográfica brasileira atual e os temas do seu filme.

Por que lhe interessou inicialmente esse processo de um coming-of-age marcado pela falta e pela frustração daí decorrente?

A ausência sempre me interessou muito, as rejeições, os abandonos, acho que são sensações muito duras e difíceis de lidar internamente. Gosto de falar ou mostrar as coisas que me incomodam, aprendo como lidar com elas e me encarar de frente com um espelho no fundo, como um mergulho em algo que eu não domino.

Em termos narrativos, optou por uma construção mais minimalista, apostando nos pequenos momentos do quotidiano e não dos “grandes” e dramáticos acontecimentos…

Sim, apostei. Acho que pelos pequenos movimentos nós reconhecemos os grandes, eles emocionalmente são iguais. Além disso gosto da sensibilidade com um olhar mínimo, discreto. Quantas vezes você não sofre calado, quieto, quando sente para dentro? Mesmo que os movimentos sejam grandes, os sentimentos são interiores.

Também quis mostrar um processo de amadurecimento sexual confuso – como aliás são todos…

Sim, um menino de 14 anos não esta bem formado emocionalmente, não sabe o que acontece com ele – às vezes confunde o que é sexo, o que é afeto, o que é carinho, o que é carência… e por ai vai – sempre tropeçando internamente. Acho bonito essa vivência quebrando a cabeça e aprendendo sozinho a vida.

O cinema brasileiro de modo geral vem conseguindo romper as fronteiras e marcado uma presença regular nos festivais internacionais. Berlim é um bom exemplo e dois filmes seus chegaram lá. Como foi a experiência e o que acha deste contexto de um modo geral?

Eu fico muito feliz que os organizadores do Festival de Berlim tenham gostado do meu trabalho até agora. Significa que entenderam o meu olhar, as minhas angústias. O Brasil está numa fase de muitas produções, o governo nos últimos anos incentivou muito a realização de filmes. Isso é muito bom, vêm aparecendo bons talentos que agora tem oportunidade de mostrar o seu trabalho.

Já tem novos projetos?

Tenho sim, um argumento chamado Dolores, que por sinal ganhou o prémio Ibermedia de desenvolvimento no ano passado na Espanha – fiquei muito contente. Conta a estória de uma mulher de seus 65 anos que esta aposentada, livre de cobranças, livre de dar satisfações para alguém, uma mulher madura que gosta e quer viver a sua maneira.