Sexta-feira, 29 Março

Entrevista a Mark Button e Richard Starzak, os realizadores de «A Ovelha Choné»

A sua primeira aparição foi em 1995 numa das curtas-metragens das icónicas personagens da Aardman, Wallace & Gromit. Porém, nessa altura estávamos longe de adivinhar o percurso de êxito desta carismática personagem, Shaun the Sheep, por cá  A Ovelha Choné. Depois de uma série de mais de 130 episódios, spin-offs e curtas, a nossa ovelha é a protagonista da nova aposta nas longas-metragens animadas do estúdio.

Por enquanto, é um dos filmes em destaque da 15ª edição da MONSTRA: Festival de Animação de Lisboa. O C7nema teve o prazer de falar com os dois realizadores do filme, Mark Button e Richard Starzak. A estreia comercial do filme em Portugal está programada para setembro de 2015.

Shaun the Sheep iniciou como um secundário de uma curta para mais tarde protagonizar uma série própria. Agora é estreia do seu primeiro filme. Como explicam o sucesso desta personagem?

Richard Starzak: Existem várias razões. Uma delas, eu penso que o universo da comédia slapstick é universal, quer na Europa, América, Japão ou Austrália. É uma língugem universal, onde são poucos que têm uma perspectiva diferente, visto que não tem dialogos e é simples para a percepção em qualquer país.

Mark Button: Como personagem, nós sabemos que é bastante astuto e que tem um coração de ouro. E as crianças adoram a sua essência, o de fazer parte de um mundo secreto. Um mundo secreto das ovelhas. Penso que é isso que as crianças adoram. Mas tenho que dar crédito aos seus criadores, ao design da personagem, porque segundo dizem uma boa personagem animada consegue ser identificada somente pela sua silhueta. Basta apenas as sombras, não é preciso ver a personagem por inteiro, ou até o corte de cabelo para perceber que é Shaun the Sheep. E é isso que a torna acessível, ou seja, icónica.

Sendo Shaun the Sheep o vosso primeiro trabalho de direção, como descrevem essa experiência?

M: Foi boa, bastante desafiante. Mas temos que entender não basta ter uma tarefa de realizador a 100%, mas sim de nos envolvermos em outras tarefas, todas elas de diferentes níveis. Adquiri imensa experiência em guionismo, ou seja, no lado do enredo, mas por outro lado não possuía experiência na vertente da animação, no design ou no desenho. Mas tínhamos uma boa equipa na Aardman, quer dizer, uma boa equipa que nos ajudou e nos fez entender toda essa parte da animação. Também tivemos uma boa equipa de produção, uma equipa com imenso talento, habilidade e experiência. Por isso podemos dizer que tivemos a melhor equipa que se poderia pedir. Eles ajudaram-nos imenso.

R: Sim, este foi o meu primeiro filme dirigido, apesar de ter realizado imensos episódios e ter escrito muitos também. Mas sim, foi uma experiência fantástica. Foi bastante estimulante. Por vezes assustador, porque é uma produção sem diálogos, mas acima de tudo foi fantástico, como também compensador, visto que é óptimo ver as audiências a rir nos momentos exatos, assim como chorar nos momentos certos.

Como foi escrever o argumento de um filme de hora e meia, baseado numa série em que cada episódio não excedia os sete minutos de duração?

M: Acho, que primeiro de tudo, tivemos que ver a série tal como ela é, porque nós temos personagens muito fortes. Depois tentamos dar a essas personagens mais vida emocional, uma história sentimental. Como todos as boas animações, teríamos que ter uma história bastante emocional. Teríamos que diferenciar as personagens daquilo que inicialmente aparentam ser. O que nós definimos é que tínhamos que estabilizar a vida dentro da Quinta e fora da Quinta. Quer dizer, a oposição ao mundo rural à cidade. Achámos melhor colocá-los na Big City (Grande Cidade). Nós tínhamos uma história simples, mas com personagens fortes conseguimos criar um efeito de «extraterrestre», ou como se diz, um peixe fora de água, neste caso uma ovelha sem o seu rebanho. Por fim inserimos muitas piadas, comédia assim por dizer, mas claro, um lado mais emocional.

R: Em sete minutos não precisas uma ideia de uma piada para avançar profundamente, mas em alguns episódios já existia uma linguagem cinematográfica, o que nos sugeria que Shaun the Sheep poderia originar histórias mais longas. Sim, o desafio foi mesmo preencher esse tempo com a história de Shaun e o seu ponto de vista. Era exatamente isso que nós pretendíamos. Esse era o truque, o que acabou por ser compensador.

Como foi o processo de criação desta animação? Foi demoroso?

M: Sim, é bastante demoroso. Conseguíamos fazer dois segundos de animação por dia, isto num bom dia. Numa semana fazíamos dois minutos, isto numa boa semana. Mas Shaun the Sheep foi mais rápido que muito dos filmes de animação. Concretizamos a obra em 10 meses, o que foi bastante rápido para uma animação de stop-motion. É um processo em quase “slow-motion”, mas bastante dinâmico. Nós tínhamos cenários reais, marionetas reais, propriedades reais, luzes, câmaras, todas as existências físicas. Os atores são os animadores e eles conseguem captar aquilo que pensamos através das personagem. Sim, eles são os grandes motivadores desta animação. São os nossos atores.

R: Bem, todos os filmes de animação são lentos [processo de criação]. Para fazer um com CGI é necessário a mesma disciplina. Precisas do mesmo esforço no design e na construção das personagens e cenários, a luz, a animação, são as mesmas coisas só que interpretadas num computador. Penso que fazer uma animação stop-motion é uma experiência satisfatória, fazer algo com presença física, e as crianças adoram “stop-frames” porque sabem que aquilo, de certa forma, existe. Todavia, há limitações. Por exemplo, no CGI não existe gravidade, elemento que existe no processo do “stop-frame“. Então sentimos que temos que ir mais além daquilo que é minimamente requerido. Constantemente temos que pensar. Como vamos fazer isto? Como iremos meter esta personagem a voar? Coisas do género. É sempre desafiante, mas ao mesmo tempo divertido.

E quanto a novos projetos? O que vai ser do futuro de Shaun the Sheep?

R: Iremos fazer mais episódios, estamos a preparar um especial de Natal chamado Farmer’s Lhamas. Esperemos que o estúdio também deseje fazer um novo filme de Shaun the Sheep, e algumas ideias que de momento não podemos adiantar.

M: Penso que o estúdio terá um futuro brilhante e que integrará parte do futuro da animação, pois eles estão a trabalhar para isso, assim como nós. Irá ser um percurso entusiasmante. Diversos filmes irão ser rodados e, ao contrário do que as pessoas dizem, dque o stop-motion é uma moda velha e ultrapassada, pensamos que este tipo de animação terá um futuro brilhante.

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