Quinta-feira, 18 Abril

Jennifer Lawrence: «não me irão ver tão cedo num franchise»

Jennifer Lawrence é uma estrela na crista da onda. Uma carreira que sofreu um tremendo empurrão com a saga Hunger Games, agora chegar ao fim mas que promete ser um dos principais fenómenos cinematográficos do ano.

A histeria juvenil em redor do destino de Katniss Everdeen começou logo em 2008 com o sucesso do livro homónimo de Suzanne Collins que logo permaneceu 300 semanas consecutivas na lista dos bestsellers do New York Times. Hoje sabe-se já que Hunger Games é um fenómeno que supera mesmo o sucesso de TwilightNão só em intensidade dramática como naturalmente em receitas de bilheteira. O que prova também o sucesso da adaptação cinematográfica e o fascínio em redor dos protagonistas envolvidos nessa espécie de reality show com diversos jovens forçados a participarem num combate pela vida como se verdadeiros gladiadores se tratassem e agora empenhados numa revolta contra um regime totalitário. Elementos que viriam ditar que esta terceira parte (depois de Jogos da Fome e Em Chamas) fosse dividida em dois filmes, A Revolta Parte 1, a estrear agora em todo o mundo, ficando a segunda agendada para precisamente daqui a um ano.

Há algo em si que toda a gente parece apreciar: a Jennifer não se importa muito com a imagem e mostra-se como é. Pelo menos parece muito credível…

Ainda bem que é credível, ficaria preocupada de não fosse credível… (risos)

Sim, mas grande maioria das atrizes que são reconhecidas pelo seu trabalho acabam por adquirir um comportamento, digamos, politicamente mais correto…

Acho que temos de fazer o que podemos para ser felizes. É um mundo muito diferente. Pode ser muito excitante, mas também algo triste. De alguma forma, as pessoas têm de encontrar alguma proteção. Há quem tenha uma personalidade que pertence ao mundo, eu tenho isto… É uma forma de seguir o meu caminho. Gostaria de não ser assim, mas não tive escolha – digo aquilo que penso… Por isso, se me fizer uma pergunta, eu limito-me a responder.

Não receia este canal de comunicação?

É verdade que muita gente está a ouvir, muita gente está a ver, muita gente está a ler, e provavelmente a ajuizar o que estamos a dizer, o que vestimos ou o que fazemos. Mas se permitirmos que isso aconteça, isso irá esmagar-nos. Por isso limito-me a falar, vestir roupa e não ligar às repercussões. É algo a que não me posso permitir.

Sente que se tornou mais cautelosa naquilo que diz à imprensa, por exemplo?

Estou a tentar…

Mas não consegue resistir a ser você própria, não é?

É isso, mas por exemplo é-me difícil passar ao lado de uma piada, percebe? Mesmo quando sei que é inapropriada…

Gosta então de dizer piadas…

Sim, é verdade, mas estou a tentar limitar o meu à vontade.

Sente que pelo facto de estar na sua posição e poder ser alvo de comentários e críticas, mesmo sem ser na sua presença, que isso pode afetar a sua autoestima?

Não afeta a minha autoestima. Por exemplo, se alguém me chamar gorda eu sei que não é verdade; se me chamar feia, eu posso concordar…

(risos)…

Sim, sou como qualquer outra mulher. Ou seja, pode não afetar a minha autoestima, ainda que deixará a sua marca. Não é normal que possamos dizer coisas com 22 ou 23 anos que se podem converter em notícias parvas. Sobretudo quando há pessoas que prestam demasiada atenção a isso. Sim, pode ser stressante. Por isso já não presto muita atenção a isso. Como digo, antes prestava mais atenção, agora não quero saber. Interessa-me lá saber se dei alguma gaffe ou se vou ver aquela imagem de mim a cair nas escadas…

Pois, essa foi forte, toda a gente estava à espera que caísse de novo…

Pois, e aconteceu mesmo. Lá está…

No entanto, o seu mundo está com certeza cheio de coisas boas. O que gostava de saber é quais são os seus guilty pleasures, aqueles pecadinhos a que não resiste?

Guilty pleasures? Reality shows! É a única coisa em que me posso mesmo perder. Sobretudo porque isto porque não sei nada sobre reality shows. Não sei como são feitos, não conheço ninguém nesse mundo, por isso posso perder-me totalmente… (risos)

A Jennifer é uma pessoa que se preocupa muito com o seu corpo? Permite-se, por exemplo, a comer os seus brownies?

Não direi que me permito, digo que saio de casa para correr durante uma hora para depois pode deliciar-me a comer porcarias. Mas, sabe, estou neste projeto há já tanto tempo que já nem sei. Normalmente chego a casa e caio morta.

Não tem tempo para se manter em forma?

Sabe, ao estar aqui em França nem pensei que me iria fartar de manteiga e pão, mas é verdade. Agora não vale a pena entrar em stress. Faço ginástica porque sei que é bom para me mentar saudável. Mas ainda sou nova. Pensar nisso quando precisar.

A Jennifer tem tido bastante sorte. Trabalhou duas vezes com o David O. Russell e teve esta franquia. E também tem Selena. Como perspetiva a sua carreira no futuro?

Não sei como será. Mas foi muito bom poder trabalhar com pessoas que já conhecia. Facilitou muito o trabalho e a comunicação. Por exemplo, com o Francis (Lawerence, o realizador de Hunger Games) por vezes já sabia o que ele estava a pensar. O mesmo se passou com o David (O. Russell). É uma das coisas boas de poder voltar a trabalhar com as mesmas pessoas. Mas também é bom passar para algo completamente novo, conhecer pessoas novas.

Isso pode significar também que poderá voltar a fazer filmes independentes?

Sim, claro que sim. Não me irão ver tão cedo num franchise…

Até porque o seu nome num filme independente poderá fazer com que não passe despercebido…

Essa é das melhores coisas que me pode acontecer. Poder encontrar uma história deliciosa que jamais encontraria a luz de uma sala de cinema e poder estar envolvida na sua descoberta.

Era ainda tão nova quando ganhou o seu Óscar. Sente que isso dificulta a sua escolha?

Não, nada mudou no meu critério de escolha. Tal como sucedeu com Hunger Games. Tenho de gostar da história, da personagem, da equipa.


Liam Hemsworth, Jennifer Lawrence e Josh Hutcherson em Cannes

Teve algumas experiências negativas com fãs?

Normalmente não, mas o problema é que as pessoas podem achar que me conhecem, provavelmente de me verem no ecrã, mas isso não lhes dá o direito de pensarem que sou amiga deles. Ou quando os pais trazem as criancinhas para tirar uma foto comigo. Isso é um bocado louco.

Na verdade existem alguns clichés sobe figuras públicas que podem azo a certos momentos insólitos. Mas sendo a Jennifer tão espontânea acha que poderá não ser apanhada nessas situações embaraçosas?

Não sei. Se calhar poderia estar aqui a contar-lhe histórias em como sou tão controlada, mas a verdade é que não sei qual será a resposta. Há pessoas que se vangloriam de não aparecer em tabloides, mas eu não tenho qualquer controlo. Não tenho controle sobre as fotografias que me tiram, do que dizem ou do facto de que nada disso é verdade. Por isso mesmo não tenho outra escolha a não ser eu própria.

Consegue compreender aqueles que são apanhados pelo lado negativo da fama, ficam uma vida totalmente escrutinada pelos media?

Claro que compreendo. Imagine que a sua vida fica completamente virada do avesso. Eu luto com isso porque sou uma pessoa normal, e uma pessoa normal não pode ser seguida todo o dia e ter pessoas todo o dia diante da sua porta. Todos os dias. Uma pessoa normal não poderia viver assim. Acho quem procura esse tipo de vida deve ter problemas mentais. Necessitar esse tipo de atenção é bizarro. Adoro o meu trabalho e não poderia fazer outra coisa na vida. Mas é triste porque adoro representar. Mas quando temos de aguentar com tudo isto acaba por ser um fardo demasiado pesado.

Acha que o dinheiro também nos pode arruinar a vida?

O dinheiro não faz grande diferença. Eu tenho muita sorte de poder fazer aquilo que quero e ganhar algum dinheiro com isso. Mas não é isso que nos aconchega à noite… Ou seja, não é o aquecimento central.

Sente que já perdeu uma parte importante da sua liberdade?

Há um ajustamento. Até porque tenho uma vida abençoada em tantos aspetos. Poderia ter uma existência muito mais triste em muitas outras situações. Por exemplo, eu tenho de me habituar que não posso fazer certas coisas. Está um lindo dia lá fora e gostava de ir dar um passeio ou ir fazer compras mas não posso sair pela porta. Ou não poder ir jantar com os meus amigos. É duro porque não cometi nenhum crime. Então porque estou eu prisão domiciliária? Sobretudo porque não tenho controle das pessoas que me tiram fotografias e não sei quando irão aparecer nos media sociais. E quando aparecem nas redes sociais aparecem também nos tabloides. E os tabloides são hoje em dia uma celebridade maior do que nós. Por isso já vê, há muitas coisas sobre as quais não tenho controle.

Como reage à reação que os seus fãs têm sobre as suas personagens? A Katniss Everdeen, por exemplo. Sente que tem uma certa responsabilidade pelo seu destino como personagem?

Nós procuramos estar muito a par do que pensam os nossos fãs. A Suzanne Collins sempre teve esse cuidado. Mas às vezes pode ser perigoso pensar em como será a reação dos fãs à nossa personagem. Isto porque poderão afastar-se da verdade. E o meu trabalho é tentar encontrar a verdade da personagem e tentar representá-la da forma que sou capaz. Seja ela agradável ou não. No primeiro filme foi um bocado complicado porque estava a agir como eu achava que deveria ser. Mas nunca sabemos como irão reagir, se irão gostar ou não. Mas estamos muito cientes da nossa base de fãs, embora sem pensar demasiado neles, porque no que estamos focados é em fazer bons filmes.

Recebe feeback dessa base de fãs?

Digamos que recebo bastante feedback… (risos)

É inevitável que o seu estatuto lhe dá um certa voz. Sente essa importância?

Percebo que este filme pode ser uma boa plataforma, embora não perceba bem que tipo de impacto possa ter. Ou uma opinião tão importante que toda a gente tenha de saber…

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