Quinta-feira, 28 Março

Entrevista a Dany Boon, o Super comediante

É um francês sorridente que nos recebe na suite luxuosa do Hotel Hyatt, junto à Place Vendôme, um dos locais mais chiques de Paris. Ao saber que somos portugueses trauteia de de improviso um “Tiro-liro-liro“, certamente a pensar no tema imortalizado por Amália Rodrigues, ainda que a língua lhe atraiçoe as palavras… “Tentei cantar para os jornalistas portugueses, mas não sei se consegui“, confessará em seguida ao telefone para a esposa Yael Boon, filha de mãe portuguesa, e de quem tem três filhos. Ainda que do outro lado se ouça uma gargalhada cúmplice que o corrige de volta para o fado lusitano. Tudo isto no meio da nossa entrevista, dividida com a conversa com os filhos que se apontavam para ir à escola americana via chamada vídeo Face Time do seu iPhone. Pelo menos o mote de descontração estava ganho.

Daniel Hamidou é um comediante nato. Orgulha-se em ser do extremo norte da França, de Amentières, onde nasceu há 48 anos. Filho de ex-boxeur e camionista argelino e dona de casa, não escaparia ao sotaque carregado da região, que usaria mais tarde como trunfo humorístico no mega sucesso Bem-vindo ao Norte, o que fez dele o ator francês mais bem pago.

Isto já depois de se afirmar como comediante de rua e mais tarde ator. Hoje divide o seu tempo entre Los Angeles, onde de se fixou com Yael e os seus três filhos – Eytan, de nove, Élia, de oito e Sarah, de quatro anos. Daniel tem ainda outros dois filhos de duas anteriores relações.

Encontramos, portanto, Dany Boon – o nome foi mesmo inspirado no explorador Daniel Boone – num momento particularmente feliz da sua vida. A vida familiar corre bem, tal como a profissão. Em particular quando divide o protagonismo com o amigo e colega Kad Merad, como sucede neste filme. Foi de resto ao lado de Merad que sua carreira disparou com o “boom” de Bem-vindo ao Norte. O sucesso foi de tal ordem que se fez mesmo o ‘remake’ italiano Bem-vindo ao Sul, em que Boon teve uma participação não creditada. Seguiu-se um novo delírio em forma de choque de culturas, em Nada a Declarar, uma passagem por Astérix & Obelix: Ao Serviço de Sua Majestade, bem como o mais recente romance com Diane Kruger, em Um Plano Perfeito. E atualmente os seus planos mais imediatos passam por Hollywood.

Ao vermos Supercondríaco torna-se fácil perceber que a fórmula de Dany Boon assenta num humor físico muito vincado. Aqui no papel de um hipocondríaco feroz viciado em produtos de higiene e com um permanente receio de múltiplos contágios. Inevitavelmente, ficamos contagiados com seu humor.

O Dany é atualmente um dos maiores comediantes em França. Em grande parte devido ao êxito colossal de Bem-vindo ao Norte, algo agora ampliado com Supercondríaco. Em retrospetiva como avalia este seu sucesso?

Eu?! Bem, claro! (risos) As pessoas têm reagido muito bem aos meus filmes. Há um passa a palavra que tem funcionado. Continuamos no 1º lugar do box office depois de um mês de estreia, o que é ótimo. Isto numa altura em que há cerca de 15-20 filmes que estreiam todas as semanas. Estreou já quase uma centena de filmes depois de Supercondíaco. Por isso continuar em primeiro quererá dizer alguma coisa…

O riso acaba por ser o fator relevante. Dá ideia que é isso que as pessoa procuram…

Sim, têm necessidade disso, sim. o alimenta a siatir esseis tambºr os outros. essoas se sua personage, um tipome,nesseÉ isso que eu faço. É essa a minha missão.

Como foi que se deu conta dessa sua ligação com o humor. Ou, por outro lado, quando descobriu que produzia nos outros essa reação de libertação e riso?

É algo que vem da minha infância. Sobretudo da infância. Eu sinto necessidade de fazer rir os outros. É uma necessidade.
Digamos que é uma relação importante, pois julgo que também é importante para si.

Sim, é isso que alimenta o meu sentido de humor. Ao fim e ao cabo é uma alimentação espiritual, sensorial. Na verdade é a alimentação mais importante. Dá-me um sentido à minha vida. Diria até que é mais importante que o sucesso, está para além dele. Podemos ter sucesso em outras áreas, mas fazer rir é daqueles momentos mágicos numa carreira.

Mesmo quando falamos e nos rimos das doenças. No caso da sua personagem um tipo hipocondríaco…

Sim, mesmo nesse caso. Temos de saber rir de tudo. É a forma como contamos as coisas, mas também a ternura que temos com o público, pelos outros e pelo ser humano. Como trabalhamos como a matéria humana temos de comprovar essa delicadeza e um olhar preciso sobre as pessoas para lhes poder provocar o riso.

Ao pesquisar a sua biografia, percebi que o seu pai foi um ex-boxeur, mas o mais curioso foi a inspiração do seu nome artístico, Dany Boon. Pode revelar-nos a história por detrás dessa inspiração?

Sim, o meu nome verdadeiro é Daniel, mas acabei por me inspirar na personagem do explorador Daniel Boone, a partir da série que dava na TV. Acabei por guardar isso. Até porque no início da minha carreira como humorista precisava de coragem para subir ao palco e um nome falso ajudava. É bastante duro subir a um palco para fazer rir os outros.

Era aí que explorava o seu lado de mimica?

Sim, um lado mais físico, mais ‘clown’.

Teve alguma inspiração para criar essa personagem?

Sim, vários, é claro. Muitos franceses, como o Louis de Funès, por exemplo. Quando era miúdo gostava muito do Fernandel, do Peter Sellers, e do Chaplin, por diversas razões. O Jaques Tati… Em grande parte pelos filmes que via na televisão. Mas a pantomima veio também pelos espetáculos de rua. Aliás, isso é algo que eu guardei, essa ligação do corpo, o humor mais físico.

A sua colaboração com Kad Merad tem sido conseguida e mantém-se ao longo dos anos. É quase uma espécie de alma-gémea, não?

Com o Kad, sim, temos uma bela cumplicidade. O Kad é um ator com muita riqueza. Ele tem muita humanidade na forma como atua e é. Aliás a personagem que escrevi tinha essas qualidades, por isso era inevitável convidá-lo para o médico que acompanha este irremediável doente crónico… O nosso trabalho é muito rápido e instintivo. No fundo, fazemo-nos rir um ao outro. Ele é muito generoso.

O filme é muito divertido, mas a cena do duche em que Dany lava freneticamente a Alice Pol é hilariante… No fundo, um encontro muito intenso, ao mesmo tempo erótico e cómico. Acho um momento genial. Foi algo desenvolvido logo na escrita do guião?

(risos)… Sim, começou por ser escrito, mas acaba sempre por ser acrescentado por algo mais. É estranho o tipo que tem medo de dormir com uma mulher e por isso decide dar-lhe banho… (risos). Mas eu próprio vivi uma relação em que não tinha a certeza da sua higiene. Por vezes, pensava mesmo que teria de a lavar… (risos) Isso fez-me pensar da forma como passava o sabonete pelo corpo dela. Achei a situação muito divertida e forte do ponto de vista cómico.

A sua origem da região do Norte, em França, terá estado na génese do humor gerado em “Bem-vindo ao Norte” e a exploração desse sotaque carregado?

Sim, porque no início gozavam com o meu sotaque do norte. Talvez por isso tenha desejado explorar a forma como o sotaque pode ser usado como elemento cómico. Agora o que eu nunca esperava era que o filme viesse a ter o sucesso que teve.

No fundo, foi o que gerou o impulso decisivo à sua carreira.

Sim, sem dúvida.

Teve ocasião de ver o filme A Gaiola Dourada, do português Ruben Alves, que foi um outro grande sucesso em França?

Sim, claro que vi A Gaiola Dourada, um filme que mostra os portugueses que vivem cá em França. De resto conheço bem o Ruben Alves, uma pessoa muito divertida. Gosto muito dele. Ele foi assistente de um filme meu. Quem sabe se um dia não iremos trabalhar juntos.

Por falar em Portugal, acredito que Supercondríaco vai ter também muito sucesso em Portugal, onde, segundo consta, tem já uma “costela” portuguesa, não é verdade?

(Risos…) Sim, é verdade. Os meus filhos são metade portugueses e também com uma parte suíça e francesa. É uma mistura, mas também têm o passaporte português, do lado da família da minha mulher e da minha sogra, que são muito ligadas a Portugal.

Sei que esteve recentemente em Portugal. Qual foi a sua opinião?

Estive o ano passado em Portugal, em Lisboa. Gostei imenso. As pessoas são muito simpáticas e acolhedoras. Só achei que a água da praia era um pouco fria… (risos) Mas a comida é deliciosa. Gostei muito daqueles bolos, como se chamam?

Pastéis de Belém?…

Isso. E não é muito caro, pelo menos em comparação com Paris, ou Los Angeles. Portugal é um país lindíssimo.

E será mesmo em Los Angeles que irá fazer o seu próximo trabalho, se não estou errado…

É verdade. O meu próximo projeto chama-se The Ambassadors, um filme dos estúdios FOX, que irei realizar em Hollywood.

O seu primeiro filme nos EUA, correto?

É isso. Estou ansioso para começar.

Acaba por ser mais conveniente, pois fica mais próximo da sua família.

Sim, mas eu tenho casa em LA. No fundo, vivo mais tempo lá. E os meus filhos estudam em LA – acabei agora de falar com eles. É bom, permite-me desenvolver outros projetos. Mas será algo temporário.

E não são eles um público fiel dos seus filmes?

Oh, sim, adoram. E eu gosto imenso de lhes mostrar os meus filmes.

Como é que reagem a ter um pai famoso?

Reagem bem. Apesar de perceberem que têm de me partilhar com as pessoas que me vêm pedir para tirar uma foto. O problema e que tenho de lhes dizer que só eu é que posso entrar na foto. Eles não… (risos)

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