Quinta-feira, 25 Abril

Fest 2012: Entrevista a Alvin Case (realizador de «The Whirlpool»)

 

O segundo filme confirmado na competição pelo Castelo de Prata este ano no FEST foi “The Whirlpool”, a estreia na realização de longas-metragens de Alvin Case. Depois de bem sucedidas presenças em Roterdão e no Boston Independent Film Festival, esta obra íntima e profunda irá certamente surpreender o público do FEST.

“The Whirlpool” conta a história de Agathe, uma rapariga cheia de mecanismos de defesa fruto de uma vida agitada: descobriu já adulta ter sido adotada e vive uma relação sexual atribulada com o seu psicólogo. De férias nas Cataratas do Niagara, ela conhece o solitário Victor que vive assombrado por uma tragédia recente.

O c7nema entrevistou Alvin Case.

O ‘The Whirlpool’ é uma espécie de caleidoscópio relacional. Como surgiu a ideia de fazerem uma história de amor experimental, muito visual mas emotiva?

Sempre tive interesse no cinema como forma de arte, particularmente naquilo que o distingue de outras formas de contar histórias. Já tinha experimentado com filme e vídeo nos anos anteriores, mas foi em 2010 que ‘The Whirlpool’ começou a ganhar forma.

Eu prefiro uma estrutura intuitiva para o “storytelling”, construindo a narrativa a partir de planos e imagens que poderiam ter sido criados sozinhos pela sua beleza, composição e movimento.  A história surge de cenas e das personagens – não de um guião definido.

Tinha particular interesse em explorar como uma pessoa se relaciona com a sua memória, especialmente no eco visual que ela tem na mente das personagens. Todos os dias trazemos connosco uma grande coleção de memórias que podem ser despoletadas pelo mais pequeno evento. Trazemos toda a nossa vida contigo, e o bocado que nos vamos lembrar a determinado momento pode ser escolhido por uma circunstância imprevisível.

Eu construí esta história destes dois amantes com imagens, não palavras. Planos e formas dentro de planos. Foi um argumento escrito como um objetiva em mente.

O filme foi editado de forma a criar relações entre o processo de memória e o que vemos. A forma como as cenas se repetem, em diferentes contextos, ligeiramente diferentes. É assim que a memória funciona: não é narrativa nem linear – é inconstante e até facciosa.

Estas duas almas perdidas – identificas-te com elas?

Estas duas personagens são um reflexo das minhas experiências pessoais. A personagem de Hugo (Pierre Perrier) através dos seus diálogos improvisados diz coisas que me fazem rir, coisas que me são familiares, que eu disse ou me disseram. ‘Agathe’ é uma mulher que combina coisas especiais de muitas mulheres diferentes que conheci ao longo da minha vida.


Como foi o casting para ‘The Whirlpool’?

Eu conheci a atriz francesa Agathe Feoux em Paris, através de um amigo comum. Eu tinha já escrito o argumento há alguns meses e ela foi-me introduzida por esse meu amigo pensar que ela seria ideal para o papel. Nós não falávamos o idioma um do outro, mas isto acabou por ser mais uma bênção que um problema. O nosso primeiro encontro acabou por ser muito próximo do que as personagens tem no filme.

Quando não consegues falar com alguém tornas-te mais atento e mais visual. E como quer eu quer ela não tínhamos experiência em cinema (Agathe apenas participou em série de televisão e anúncios) foi excelente.

 

 

Que realizadores mais te influenciaram?

Há muitos, mas diria que inquestionável foram o Stanley Kubrick, o Andrei Tarkovsky, o David Cronenberg e o Orson Welles. O que eles tem em comum é o “focus” pessoal que dão à forma de contar uma história, e a forma como inventaram novas ferramentas na linguagem cinematográfica para expressarem a sua visão.


Já fizeste várias curtas-metragens mas também trabalhos noutras artes totalmente diferentes. O que vem a seguir?

Planeio fazer um instalação artística relacionada com as Cataratas do Niagara (peça essencial de “The Whirlpool”). É algo que me interessa muito porque explora a ideias que um “local” pode ser mais um conceito que um local sítio no mapa. Quero continuar a trabalhar no desenho e na pintura. Tudo isto tem implicações cinematográficas – talvez sejam inspiração para um novo filme.

 

As Cataratas do Niagara tem um papel muito importante no teu filme. É um local especial para ti?

Sim, mas não sei explicar porquê. Creio que é nisto que o cinema é útil. Permite-te explorar e descobrir coisas, de forma mais tangível porque te obrigar a materializá-las e mostrá-las. Para mim as Cataratas do Niagara são como um ponto final de um trajeto, o fim de uma estrada. A estrada termina lá e do outro lado do rio é outro país – o Canadá.

O filme de Marilyn Monroe (Niagara de 1953) foi também um facto importante – foi um dos primeiros filmes “noir” feitos a cores.


O teu filme estreou no Festival de Roterdão e tem sido bem recebido. Esperavas este sucesso?

AC: Não propriamente. Achava que o filme refletia a minha visão pessoal do que o cinema deve ser. Mais visual do que narrativo, mais emocional do que de atos.

Fiquei muito contente com as reações em Roterdão, quer do público quer dos profissionais que conheci lá.

Que esperas da estreia de “The Whirlpool” em Portugal no FEST?

Eu conhecia muito pouco do FEST antes de 2012, mas o que tinha ouvido era muito positivo. Quando o FEST me convidou a submeter o filme para consideração, fiquei muito contente e entusiasmado. Foi um gesto com significado e ainda me lembro de como me senti. O FEST é um festival importante para qualquer realizador porque é um festival para realizadores, sobre a arte do cinema.

Portugal é também um local poético em termos de cinema – tem nomes muito fortes e históricos. Por isso ter o meu filme aí, nesse grande encontro de pessoas que fazem filmes e jovens que querem aprender é perfeito.

THE WHIRLPOOL é um dos 10 filmes selecionados para a competição Castelo de Prata este ano no FEST: Festival Internacional de Cinema Jovem de Espinho.

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