Sexta-feira, 26 Abril

“Nómada”: os aliens apaixonados e a maldição do Crepúsculo

Os visitantes alienígenas tomaram conta do planeta operando diretamente no cérebro dos humanos. Com uma tecnologia mais avançada e com total controlo dos impulsos desagradáveis dos habitantes locais, eles criaram um mundo extremamente pacífico e sem doenças. Mas, também, sem amor e sem paixão…

E é por estes valores que luta Melanie Stryder (Saoirse Ronan), cujos irmão Jamie (Chandler Canterbury) e namorado Jared (Max Irons) estão num refúgio onde um pequeno grupo de sobreviventes resiste à ocupação. Quando um alienígena conhecido por “Nómada” é introduzida no seu cérebro, Stryder revela-se uma hospedeira forte o suficiente para não ser completamente aniquilada pela invasora – conseguindo com que esta a leve até o esconderijo, onde vai despertar reações nada consensuais. Claro que daí até o final há amor para todo o lado – e até a alien que vive na cabeça da hospedeira vai se apaixonar… Ao mesmo tempo, são perseguidos por uma implacável Batedora (Diane Kruger).

A maldição do Crepúsculo – parte 1

 “Eu não acredito que este filme esteja tão definido em termos de público-alvo. Eu acho que o nosso filme é para pessoas de sexo e idade diferentes”, disse Max Irons em entrevista ao site Omelete, sobre a inevitável comparação entre esta obra e a saga “Crepúsculo”. Infelizmente para ele, a sua tentativa de separar o joio do trigo tem-se revelado inútil.

“Nómada”, baseado num romance escrito por Stephenie Meyer depois dos volumes que compõem a sua famosa saga vampiresca, é daqueles projetos que nasce “amaldiçoado” pela sua herança: tanto os críticos quanto parte do público têm-lhe recusado a hipótese dele ser outra coisa que não mais um romance de cordel para o público feminino. Por um lado, se e é certo que o filme é mais fluído, tem um elenco melhor e uma história com mais reviravoltas do que “Crepúsculo”, por outro é bastante questionável que exista mesmo muito mais para se procurar neste “Nómada”.

Não se trata, unicamente, de ser cheio de paixões adolescentes – com atores escolhidos mais pelo visual (exceção de Ronan) do que porque qualquer atributo dramático que eventualmente possuam (caso de Irons e Jake Abel). Também não é mal em si haver romance – mas o problema é que a lógica e a simplicidade tosca destes relacionamentos dificilmente o afastam dos seus primos morcegos/lobisomens.

A maldição do Crepúsculo – parte 2

Aquilo que podia contrabalançar as lamechices e, eventualmente, levar um toque autoral de um realizador de culto como Andrew Niccol (de “Gattaca”, “O Senhor da Guerra” e “Sem Tempo”) – que aqui fica-se por uma construção visual extremamente eficiente – seriam os antagonistas. Ocorre que eles não só se afastam das sombrias distopias da ficção científica sobre invasores alienígenas como nem sequer competem com os próprios vilões de “Crepúsculo”, os terríveis Volturi – a coisa mais divertida alguma vez imaginada por Meyer. 

É certo que em “Nómada” as suas noções de ordem, disciplina e aniquilamento do indivíduo assemelham-se a qualquer idílio fascista, mas esta assepsia totalitária é explorada de tal maneira leve que a maior parte do tempo eles parecem bastante bonzinhos.  Será mesmo bom negócio para o mundo que os violentos, apaixonados e mentirosos humanos consigam destruí-los? A própria Diane Kruger, que vive a perseguidora dos humanos, colocou a coisa nestes termos numa entrevista de divulgação do filme – afirmando que “nós (humanos) com todos os defeitos que temos talvez sejamos o mal deste mundo…”

Os grandes poderes de Stephenie Meyer

A escritora do “Crepúsculo” mergulhou de cabeça no cinema com “Nómada”, onde foi co-produtora. Numa entrevista a Reuters, ela relatou que não era lá muito bem vista no set de filmagens nos tempos do “Crepúsculo” – simplesmente porque não é muito comum (ou desejável) um escritor circular por lá. Mas, com o sucesso dos filmes, seu poderio aumentou e, com seu novo estatuto, pôde estar muito mais presente na adaptação do seu livro mais recente. Neste sentido, “Nómada” foi um passo muito além: desde o início a escritora trabalhou com o produtor Nick Weschler e no set discutiu ideias de igual para igual com o realizador Andrew Niccol e com os atores. 

Os fracos poderes de bilheteira (e crítica…)

Apesar de um custo de apenas U$ 40 milhões, o primeiro final de semana do filme nos Estados Unidos, um mercado decisivo para obras deste género, não foi nada auspicioso. Os U$ 11 milhões que arrecadou parecem indicar que a obra dificilmente vai atingir o seu custo – mesmo levando-se em conta que irá estrear ainda em muitos países. Tendo já Saorsie Ronan se comprometido para as sequelas, parece pouco provável que algo se seguirá a este filme. Já dos críticos não se esperava mesmo muito – mas possivelmente exageraram no massacre. 

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