Quinta-feira, 25 Abril

Um Caso Real: pobres aristocratas entediados

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“O homem nasce livre, e em toda parte é posto a ferros. Quem se julga senhor dos outros não deixa de ser tão escravo quanto eles.” Quando elaborou um dos mais famosos trechos do seu “Contrato Social” é muito pouco provável que Rousseau tivesse em mente aristocratas entediados e “aprisionados” pelos seus próprios compromissos (leia-se, casamentos impostos) – mas é precisamente no meio destes que suas ideias caíram como uma bomba. Até porque aqueles que deviam ser os maiores interessados nelas nem sequer sabiam ler… 

Na Dinamarca a aventura iluminista teve o seu primeiro round na particular aventura de um médico de província alemã, Johan Struensee (Mads Mikkelsen) que inadvertidamente foi parar à corte escandinava – quando cai imediatamente nas graças do seu mentalmente instável do rei Christian VII (Mikkel Følsgaard). O médico era um homem esclarecido e, quando acaba por assumir definitivamente o poder sob o escudo protetor e desinteressado do soberano, vai propor uma séria de medidas radicalíssimas para a época – que deixaria a aristocracia dominante de cabelos, ou melhor, de perucas, em pé. Para atear fogo ao paiol, só faltava mesmo um desejo fulminante (e correspondido) pela triste rainha Carolina Matilda (Alicia Vikander).  

Paixões avassaladoras

Esse coquetel de paixões avassaladoras (à moda germânica, diga-se de passagem – ou seja, com cenas de sexo tão quentes quanto o Mar do Norte) com ideias revolucionárias teve sempre um apelo romântico irresistível e esse filme de Nicolaj Arcel é o mais novo membro do clube a colher os louros – que vão desde o sucesso de bilheteira no seu país (a sétima maior arrecadação de 2012) a nomeação ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira – para além de prémios no Festival de Berlim. 

Esta história é bastante conhecida dos dinamarqueses e faz parte dos seus manuais de história – para além de ser o tema de um famoso ballet. Como não é difícil de adivinhar, tem todos os elementos para se construir um grande enredo – conforme disse o próprio Nicolaj Arcel à Movievest – e muitos dos seus colegas tentaram adaptá-la. Ao falhanço até aqui o realizador atribui a falta de fundos mas, também, a maus argumentos. A acreditar no próprio, esse último problema foi resolvido quando ele mesmo decidiu tratar do assunto – num processo que, entre pesquisas e escrita, durou um ano. Muito mais complicado foi a parte das verbas – e aí foram quatro longos anos para conseguir levantar a quantia necessária.   

Os iluministas

O século XVIII foi terrível para os nobres de todos os quadrantes europeus muito antes de Robespierre rolar a sua primeira cabeça na fase sangrenta da Revolução Francesa. Já desde meados do século que pensadores cada vez menos religiosos e mais racionais minavam irremediavelmente toda a construção mental e social do Antigo Regime – baseada num amplo conjunto filosófico de fundo cristão que justificava a ordem vigente. Só faltava quem pegasse nas ideias e tratasse de as concretizar para a Europa se transformar para sempre… 

Atores premiados

Um grande ano para o ator dinamarquês Mads Mikkelsen, que há alguns anos acompanhou a ascensão do seu conterrâneo Nicolas Winding Refn (participou em três filmes dele) e entrou em alguns blockbusters, como “Casino Royale” e “Duelo de Titãs”. Para além do grande sucesso de bilheteira alcançado no seu país com seus dois filmes (além de “Um Caso Real”, “A Caça”, também em cartaz em Portugal, é um dos filmes mais vistos de 2013), o ator ganhou um dos mais prestigiados prémios do mundo – o de Melhor Ator no Festival de Cannes por “A Caça”. 

Mas nem só de Mikkelsen vive “Um Caso Real”. O seu conterrâneo Mikkel Følsgaard teve uma estreia verdadeiramente de luxo no cinema, vencendo o prémio de Melhor Ator no Festival de Berlim do ano passado.  

Ainda sem prémios, Alicia Vikander, uma atriz sueca ligada a produções musicais, antes de protagonizar a obra de Arcel teve o papel de “Kitty” na versão de Joe Wright para “Anna Karenina”.

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