Domingo, 5 Maio

«Monsieur Lazhar» (Professor Lazhar) por Jorge Pereira

A morte a dor associada a ela sempre foi uma temática capaz de puxar pelo que há de melhor nos cineastas. Basta lembrar, e pegando meramente em dois exemplos, o clima trágico e arrasador em “O Quarto Do Filho” (de Nanni Moretti), ou de uma cidade inteira em “O Futuro Radioso” (de Atom Egoyan). O lidar e superar essas tragédias comuns a qualquer um de nós (afinal de contas, todos nós perdemos inevitavelmente alguém na vida), são os elementos unificadores neste “Professor Lazhar”, mais uma daquelas obras que andou perdida na rota da distribuição portuguesa e que chegou aos cinemas timidamente por uma distribuidora “novata” com quase dois anos de atraso.

Baseado na peça Bachir Lazhar de Evelyne de la Chénelière, “Professor Lazhar” acompanha um imigrante argelino de meia idade (interpretado por Mohamed Saïd Fellag) que vai dar aulas para uma escola, substituindo uma professora que se suicidou numa das salas – permitindo que os alunos tenham de lidar com isso e com o trauma daí resultante. Desde então, cada um dos alunos desta turma vê e lida com a situação à sua maneira, denotando-se genericamente uma incompreensão pela atitude.

A este drama de emoções muitas vezes reprimidas e de (in)compreensão, em particular por dois dois desses jovens (Alice e Simon), acresce o drama pessoal de Lazhar, um homem marcado por uma vida trágica e que aos poucos tenta superar as feridas internas.

No final das contas, quer Lazhar quer os jovens acabam por de certa maneira se ajudarem mutuamente a superar os seus dramas e mazelas internas, ainda que apesar de tudo não se possa falar de uma receita, fórmula ou cura, até porque cada uma das personagens lida com a situação de forma diferente e comporta uma maior ou menor maturidade. Ao invés, o filme investe pacientemente no crescimento pessoal e num chegar aos termos com a morte (e o que ela representa), algo que Philippe Falardeau consegue executar sem nunca ter a necessidade de recorrer a generalizações (clichés), mecanismos sensacionalistas ou excessos dramáticos, que bem podiam transformar este filme num drama manipulador e chorão, coisa que felizmente não é.

Uma nota final para o bom trabalho de Mohamed Saïd Fellag no papel principal e para a boa direção de atores no elenco infantil, que muitas vezes é chamado a agir com elevados e complexos níveis de dramatismo, normalmente difíceis de interiorizar por crianças tão novas.

O Melhor: Foge ao sensacionalismo, conseguindo ser tocante e relevante
O Pior: Chega demasiado tarde aos nossos cinemas

Jorge Pereira

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