Domingo, 28 Abril

«Tinker Tailor Soldier Spy» (A Toupeira) por André Gonçalves

Eu sei que uma das maiores qualidades que um espião de topo pode ter é ser tão frio como um bloco de gelo. Infelizmente, frio como gelo é também “A Toupeira”, adaptação de um romance de John Le Carré. Um thriller de espionagem sobre… (para não variar) uma toupeira infiltrada na organização britânica (“O Circo”), a passar informações para os russos nos tempos da Guerra Fria. É imaginar um “Missão Impossível” muito “british” para espectadores com QI acima de 140, e sem qualquer défice de atenção, o que logo aí corta logo uma fatia muito grande de público interessado neste tipo de películas. 
{xtypo_quote_left}em vez de deixar o cérebro à porta, conserve todo o cérebro que tenha disponível; pode é deixar o coração, que não fará a mínima diferença {/xtypo_quote_left}O sueco Tomas Alfredson, talvez o único elemento não britânico da equipa, que vinha de um magistral e apaixonante(!) “Deixa-me Entrar” (o original), assume aqui o comando e de uma forma incrivelmente inspirada, com planos muitíssimo bem orquestrados (incluindo mais uma homenagem a “Janela Indiscreta”), mesmo que a confusão se instale a pontos sobre nomes de personagens, tal é a verborreia do argumento, e as trocas que ele dá. Os actores têm igualmente performances muito sólidas e acertadas, destacando-se Gary Oldman e Tom Hardy, embora é muito provável que ainda não seja desta que Oldman ganhe a tão merecida nomeação ao Oscar, tal é a natureza mais subtil da sua performance aqui. 
As peças vão sendo ligadas ao longo do tempo, e no final do “puzzle” completo, apreciamos e respeitamos a mestria da construção, mas perguntamo-nos: “precisava de ser assim tão… desapaixonado?” A resposta ficará ao cuidado de cada espectador que se aventure a dispôr do seu tempo. Só que aqui, em vez de deixar o cérebro à porta, conserve todo o cérebro que tenha disponível; pode é deixar o coração, que não fará a mínima diferença… 

O Melhor: A mestria de Alfredson em ligar as peças. 
O Pior: A falta de coração. A indiferença a certa altura é tanta que não nos importamos se a toupeira é X, Y ou Z. É tudo igual, afinal de contas. 
 
 
 André Gonçalves
 

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