Domingo, 28 Abril

«Los Abrazos Rotos» (Abraços Desfeitos) por André Gonçalves


Cores vivas, diálogos sumarentos, segredos enterrados, paixão, crime, sexo nas suas várias vertentes, gays e outros personagens “aparte“, referências cinéfilas à catadupa, filmes dentro de filmes… Deve ser o novo filme de Pedro Almodóvar.

A verdade é que o realizador espanhol deixou uma marca tão grande no cinema contemporâneo que já não se imagina o cinema sem ele, assim como já não se imagina um filme de Almodóvar sem os seus muitos atributos impregnados.

Daí que o único grande criticismo que se possa fazer a este “Los Abrazos Rotos” é o mesmo que se poderia fazer a “Volver“, por exemplo – o não se desviar por aí além da marca “Almodóvar“. Por outro lado, para quê mudar algo que continua a funcionar melhor do que nunca? Como já dizia o outro “Em equipa que ganha…”. Esta questão de repetição vs. inovação sempre foi transversal a qualquer arte. Mas esta é uma daquelas instâncias em que vale mesmo a pena concordar com os ditados populares.

Sejamos sinceros então: “Los Abrazos Rotos” (“Abraços Desfeitos“) é Almodóvar puro e “vintage“. Volta a conter um enredo algo labiríntico que se vai revelando aos poucos e deixando o espectador de boca aberta com revelações que poderiam facilmente cair em enredos de novelas mexicanas, mas que nas mãos do realizador, atingem um “gravitas” irrepreensível. E isto tudo mais uma vez a tirar o melhor dos seus actores, nomeadamente a recém-oscarizada Penélope Cruz, aqui transformada em ícone dos ícones.

A analogia a Quentin Tarantino e o seu último filme não será assim tão descabida como poderia parecer. Ambos os realizadores de uma cultura cinéfila estrondosa e de uma marca própria vincada logo desde início, incrivelmente consistentes, sem ainda desiludir, e dispostos a mostrar cada vez mais do que sabem, mesmo não fugindo da sua nuvem de pensamento. Ambos são recentemente acusados de repetição e de se cingirem a uma fórmula aperfeiçoada com o tempo, mas a verdade é que tanto “Inglorious Basterds” como “Los Abrazos Rotos“, nas suas repetições de estilo, conseguem ser melhores (e chocar com muito mais facilidade) que mais de 90% dos filmes estreados este ano.

O melhor: Almodóvar consegue, sem fugir muito ao que nos tem habituado, criar um filme completamente novo e fresco. Se isto não é talento…

O pior: A marca de autor persistente de Almodóvar dificulta novas conversões e facilita criticismos dos mais cínicos, que o acusam de se estar a repetir.


André  Gonçalves

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