Estreado em 1984, com Arnold Schwarzeneger, que construía uma solida carreira na ação desde o sucesso de Conan e os Bárbaros (John Milius, 1982), como cabeça de cartaz, Terminator (em Portugal com o tão mítico titulo O Exterminador Implacável) abraçava o chamado cyberpunk e recorria com alguma astúcia as suas limitações para se estender como uma ficção cientifica de ação esteticamente tosca, mas valentemente concertada. Após o êxito e o culto, James Cameron [o realizador], requisita tudo o que aprendeu na musculosa sequela de Alien: O Oitavo Passageiro para executar um dito upgrade.

Passamos então para 1991, e com um orçamento mais avantajado, o filme aventura-se pelas odes da paternidade ao som pré-apocalíptico e do cabedal da tão agora formada estrela Schwarzenegger. T-2: Dia do Julgamento Final foi um tremendo sucesso de público, crítica e valores técnicos de produção, nomeadamente os efeitos especiais num ainda CGI em desenvolvimento que redefiniu todo um conceito de criação no ramo. Anos seguiram e com Cameron a abraçar o fundo do mar após o ainda mais bem-sucedido Titanic, o realizador manteve-se fora dos planos de continuação da saga de John Connor e o seu Terminator.

O dito messias encontrou novo desafio na forma de Kristanna Loken em Ascensão das Máquinas (com direção de Jonathan Mostow em 2003), que de certa forma funcionou como um recapitular de uma fórmula vendida vezes sem conta. A invenção surgiu em 2009 com A Salvação, centrando o enredo no futuro pós-apocalíptico sempre mencionado nos capítulos anteriores. Porém, esse mesmo cenário futurista nada distanciava no imaginário comum cinematográfico, logo, mesmo com Christian Bale e Sam Worthington (que iria trabalhar com Cameron no tecnologicamente ambicioso Avatar), o filme não conseguiria cumprir o seu principal objetivo, arrecadar novos fãs para continuar o franchise sob o sabor de outros ventos.

Portanto é aqui que entra o dito “mambo jambo“, e da pior maneira com Genysis (assumido por Alan Taylor), um fracasso de bilheteira que pretendia instalar novas continuidades no enredo. O resultado foi o oposto e o regresso do envelhecido Schwarzenegger foi até ele incapaz de agarrar a nostalgia, ele que hoje é visto como ouro nos sucessivos reboots de sagas hollywoodescas. Devido a isso, Terminator caiu no limbo, prescrevendo-se como um morto para futuras gerações, até que Cameron arranca “a ferros” o moribundo pela crina e transporta-o para uma espécie de novo início, um reboot que apagaria os erros cometidos pós-T2. E fá-lo utilizando o mesmo dispositivo pelo qual Genysis foi brutalmente criticado: a desculpa do tempo reversível e das diferentes dimensões criadas por essa manipulação.

Dark Fate (Destino Sombrio) arranca com o corte de uma amarra – John Connor – para depois induzir-nos numa revisão dos locais que fizeram Terminator no marco da cultura popular que sempre referenciamos. Só que aqui, ao invés de cometer a emancipação insegura de Genysis, somos levados a uma tendência tão em voga na indústria corrente – esse dito saudosismo mercantil. É com Linda Hamilton, a heroína dos dois capítulos seminais, uma mulher envelhecida, e um certo fatalismo a demonstrar a sua garra no género. A atriz vem ao encontro de outro ícone recentemente ressuscitado – Jamie Lee Curtis em Halloween –, mas aqui com um filme que joga a favor do seu legado e do peso da sua personagem. Sim, é com Hamilton que o espirito desta obra parece reencontrar-se, mas antes dela a tocha do protagonismo pertencia a uma dinâmica Mackenzie Davis, a nova “Terminator”, mais concretamente um hibrido entre humano e máquina (ideias emprestadas a Salvação), que com a sua pose andrógina adquire o tom de uma autêntica “action figure“.

E Hamilton toma a posse desse “fardo”, martirológica e ao mesmo tempo iconográfica, atando as pontas inicialmente soltas – a nova geração e a memória de um passado. O filme, cuja a batuta é detida por Tim Miller (Deadpool) e sob a responsabilidade de Cameron na produção, rebaixa como palanque para essas mesmas recordações. Terminator pode ser uma saga que narrativamente fala de um futuro não longínquo ainda a desenrolar, mas é cinematograficamente um “filme sobre o passado” e a equipa aqui encarregada sabe-o bem. É aí que entra Arnold Schwarzenegger e a “magia” acontece quando se unem os dois veteranos no mesmo espaço.

Destino Sombrio apodera-se dessa carga nostálgica, porque até aqui o espectador preocupa-se com estas personagens, com os seus destinos e destinatários. A partir daí tudo corre como planeado. Uma exposição oleada concentrada pelos códigos do espetáculo industrial. Todavia, será este o rumo “correto” de voltar a abordar a saga, até porque a vénia ao seu misticismo é respeitado? Possivelmente terminaríamos com mais um “I’ll Be Back“, captado de forma irónica por Linda Hamilton, mas cá entre nós preferimos “For John“, sem dúvida.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
terminator-dark-fate-exterminador-implacavel-destino-sombrio-por-hugo-gomesDentro do que é hoje descrito como o "mambo jambo" temporal, um dispositivo para resolver impasses e más decisões nos franchises da atualidade (Avengers, X-Men, etc), acolhe agora este Terminator, curiosamente a saga que sempre espelhou esse corretor metafisico.