Terça-feira, 23 Abril

«Welcome To Acapulco» (Bem-vindo a Acapulco) por Jorge Pereira

Há filmes que muitas vezes parecem ter sido enterrados naquelas cápsulas do tempo e desenterradas décadas depois com a ideia que são “a última coca cola no deserto” e a excelência da demonstração do Kitsch cinematográfico. Welcome To Acapulco é isso mesmo, um pseudo trash na forma de uma comédia de ação ao estilo dos anos 80 e 90′, que usa o exagero para entregar um produto de entretenimento “fun”. O grande problema aqui é que bastam dez minutos para estarmos absolutamente saturados e até perplexos com o que estamos a ver e ouvir.

O protagonista lidera esse desafeto do espectador perante o filme. Michael Kingsbaker é Matt, um designer de videojogos que após uma noitada, em vez de viajar para o estado norte-americano do Novo México, acaba por acordar a bordo de um avião a caminho de Acapulco (no México). Sem saber bem como foi parar ali (numa espécie de introdução ao estilo “A Ressaca“), Matt é logo confrontado no aeroporto por dois homens que esperam que ele lhes entregue algo, denominado por eles como “The Package” (O pacote). Ora, nem ele, nem nós, sabemos o que é esse “Package”, mas agentes da CIA, gangsters e até um senador têm interesse na “coisa” e tudo farão para consegui-la.

O problema desta “comédia” não está particularmente no enredo, nem nos atores, mas sim na forma como o realizador orquestra e idealiza todo um conceito que no papel até podia ter bastante graça e engenho. Desde os separadores a introduzirem personagens ao estilo dos videojogos, a referências cinematográficas disparadas em todos os sentidos, até ao pobre trabalho de montagem, direção de atores e até na escolha de planos, Welcome To Acapulco revela-se um desastre completo que vai muito além do seu guião derivativo repleto de redundâncias e repetições.

As personagens são estereótipos exagerados de si mesmo, seja no caso do paranóico protagonista, seja da agente da CIA Adriana (Ana Serradilla), seja do gangster Michael Madsen, ou da personagem ultrapassada e ridícula entregue a William Baldwin (e os seus olhos azuis). Nada por aqui funciona, mas tudo é repetido até à exaustão pois Guillermo Ivan (o cineasta) crê que tudo está ótimo. Mas, efetivamente, não está e damos por nós perante um dos filmes mais enfadonhos e ridículos – que nem consegue ser uma autoparódia decente ao subgénero em que se insere – da memória recente.

Esperemos que os atores referidos – a quem se junta o veterano Paul Sorvino – tenham sido bem pagos para participarem “nisto”, pois efetivamente é extremamente deprimente terem de ficar associados a um dos piores filmes que veremos em 2019. A evitar a qualquer custo.


Jorge Pereira

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