Quinta-feira, 28 Março

«Replicas» (Réplicas) por Jorge Pereira

A história do cientista que desafia os limites da ciência, e que nesse processo vai enlouquecendo progressivamente no meio das suas obsessões, encontra neste Réplicas um novo ensaio, mas numa era em que vivemos atolados de bons exemplos da ficção científica no cinema e na TV (em particular no streaming, com séries como Black Mirror a brilharem e Twilight Zone a ser repescado), Réplicas soa a um série B reciclado dos anos 90 que o máximo que consegue fazer é transformar-se num guilty pleasure pelos nomes envolvidos.

Aqui, Keanu Reeves é o cientista Will Foster e logo nos primeiros momentos percebemos que os seus estudos e experiências implicam a transferência da consciência de um soldado falecido para um corpo artificial presente na mesma sala. Se pensaram em filmes como Robocop, O Sexto Dia e Chappie  – e são só três exemplos cinematográficos de derivados do subgénero Mind Uploading) muito trabalhado e desgastado na literatura Sci-Fi e Cyberpunk – enquanto leram o que escrevi, naturalmente que chegam à conclusão que não há nada de novo por aqui neste Réplicas, um objeto escapista que recicla material para abordar de forma muito ligeira temas como a Inteligência Artificial, clonagem e a ética e moral que as envolve, isto enquanto simultaneamente se tenta entregar um thriller de ação onde amor pela ciência e família se cruzam numa avenida de lugares comuns.

Quando essas transferências de consciência não correm bem, um evento trágico vai obrigar o nosso Will a usar o seu laboratório para criar réplicas da família mais próxima. O resto que aí vem é o esperado, com o patrão de Will a ameaçar acabar com as experiências, agentes secretivos a circundar e a ameaçar o território da ação do nosso cientista e o “clonado” a questionar a sua existência e o seu “renascimento”.

Tudo por aqui é entregue de forma muito pobre, atabalhoada, pouco espetacular, já vista, nada sugestiva, caindo-se ainda no erro de por demasiadas vezes sermos invadidos de explicações absurdas mascaradas de ciência (que na verdade são fantasias) com o uso de frases dignas de um escritor amador a aventurar-se num género que não conhece muito bem, mas que tem uma lista referencial das principais obras.

No meio deste caos, e de um trabalho decente mas pouco expedito do realizador Jeffrey Nachmanoff, “salva-se” Reeves com a sua expressão única habitual a invadir o grande ecrã, dando algum charme e carisma a um filme que por demasiadas vezes nos faz mais rir inadvertidamente pela preguiça do guião e erros que vão muito além dos chamados “plot holes“, do que em nos fazer questionar intelectualmente a matéria.


Jorge Pereira

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