Quarta-feira, 24 Abril

«The Vanishing» (O Mistério da Ilha Flannan) por Jorge Pereira

O estranho desaparecimento de três homens no início do século XX em Eilean Mor, a maior de um conjunto de ilhas localizado a oeste da Escócia, despertou um interesse na cultura, artes e mais recentemente no entretenimento, levando à criação de poemas (de Wilfrid Wilson Gibson), livros e até videojogos. Agora, temos um filme que recria – especulando – o que aconteceu a esse trio de homens que iria tomar conta de um farol durante algumas semanas.

Tentando navegar entre o drama psicológico e o thriller criminal, o cineasta dinamarquês Kristoffer Nyholm, conhecido por realizar séries como The Killing: Crónica de um Assassinato e Taboo, estreia-se nas longas metragens para Cinema em terreno que bem conhece, mas nessa transcrição encontra pouco engenho, clarividência e unicidade no argumento que possui em mãos, conseguindo apenas arrancar boas prestações ao elenco e criar uma atmosfera opressiva que antevê um desenlace trágico que impele um crescendo de tensão que nos contamina até ao final.

É que infelizmente, as escolhas narrativas e a dinâmica das personagens são pouco refrescantes (O Tesouro de Sierra Madre; O Plano; Shallow Grave, por aí fora), o que aliado a algumas indecisões de se definir entre o psicodrama e o thriller criminal (ou encaixar os dois), esbanjam o enigmático timbre que o isolamento do espaço oferece por si só, e pela presença de três homens nele. Neste grupo, destaque para Thomas (Peter Mullan), o sorumbático líder, o mais velho e viúvo de poucas palavras. Já James (Gerard Butler) é o típico homem de família que precisa do trabalho e mantém uma relação afável com todos; resta ainda Donald (Connor Swindells), o mais jovem, inexperiente, e o primeiro a ser confrontado com a violência quando um misterioso barco fica retido nas rochas da ilha.

E se a ganância e a brutalidade estão intimamente ligadas e são o centro nevrálgico da sucessão de eventos apresentada neste registo anódino e tardo, a ponta final desarma-nos com incoerências psicodramáticas de escassa evolução e resolução, que tornam toda esta experiência num objeto com mais interesse concetual do na sua execução.


Jorge Pereira

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