Nos tempos que decorrem é dificil ficarmos surpreendidos com a qualidade da animação CGI e How To Train Your Dragon 3 é um exemplo disso, não pela sua falta de rigor gráfico (nada disso), mas pela saturação que vivemos. As propostas, hoje à nossa mercê, são mais que muitas. O mesmo se aplica aos estúdios que apostam neste mercado – sobretudo rentável – da animação infantil. E se este tipo de animação, completamente explorado na sua inteiração em Toy Story, passou de processo dispendioso a um facilitismo mais em conta (colocando a animação 2D como pretensiosismo caro e o stop-motion no mesmo trilho), as acrobacias aéreas e pontuadas de detalhe nesta terceira estância de uma das jóias da coroa da Dreamworks Animation estão longe de arrebatar, até porque a nossa exigência, assim como a do público mais jovem inundado por estas produções, está ainda para ser saciada.

Contudo, não devemos entrar nesta reflexão sobre exaustões como um dos defeitos aguçadosdeste How To Train’, até porque a nível visual, estamos lá na perfeição requisitada, enquanto que narrativamente tudo corre como planeado (falamos sobretudo dos lugares-comuns deste tipo de storytelling). Mas existe algo curioso nesta trilogia animada, uma virtude que encontramos parcialmente noutro invejável trio (em breve quarteto), Toy Story, o amadurecimento da intriga, assim como das suas personagens. Enquanto que nos referidos filmes da Pixar, todo o ambiente envolto dos protagonistas evolui de forma a comunicar diretamente com o fiel espectador (aquele que cresceu ao mesmo ritmo da saga), no concorrente Dreamworks há um crescimento representativo do grupo de personagens que acompanhamos desde 2010.

O nosso Hiccup cresceu e continua a crescer, as prioridades são outras, assim como os desafios pelo qual atravessa, e a jornada para a etapa final leva-nos ao encontro de um filme-despedida, agraciado com um terno saudosismo. Porém, é fora destes sentimentos-reféns, na vontade de terminar uma trilogia devidamente (refiro isso porque atualmente é quase impossível fechar sem pensar numa expansão de franchise), que deparamos com a mesmo composição de sempre – os mesmo conflitos até às suas inevitáveis e previsíveis resoluções, os “rodriguinhos” que acompanham este cinema para todas as idades de forma automatizada.

Houve mais riscos na primeira sequela (para além da excelência da sua animação), o que nos guia a este filme mais passivo e movido por um gesto de “Adeus/És livre agora”. 

Pontuação Geral
Hugo Gomes
how-to-train-your-dragon-the-hidden-world-como-treinares-o-teu-dragao-o-mundo-secreto-por-hugo-gomesEsplêndida animação numa trilogia que ninguém pediu