Sexta-feira, 19 Abril

«Polar» por Jorge Pereira

Os filmes sobre assassinos sempre povoaram as salas de cinema e não foi preciso chegar um John Wick recentemente para nos dar conta dessa realidade. Oficio de Matar de Melville, Léon, o Profissional de Besson, Anjos Caídos de Wong Kar Wai, Bangkok Dangerous dos Pang, Ichi The Killer de Miike, Este País Não É Para Velhos dos Coen, Kill Bill de Tarantino e Chacal de Zinnemann são apenas escassos e bons exemplos de trabalhos conseguidos nessa matéria, muitos dos quais se apropriam do drama com essência, mas onde não faltam aqueles em que explosão de violência gratuita e despropositada transformam tudo num produto consumível de comédia negra disparatada.

Quer John Wick quer Polar têm princípios e mundos muito próprios, estilizados, com este trabalho do famoso realizador de videoclipes Jonas Akerlund a basear-se numa banda-desenhada desenvolvida por Victor Santos para contar a história do homem mais letal do mundo, o Black Kaiser, que se prepara para a reforma. O problema é que neste mundo capitalista, a empresa para a qual trabalha tem problemas financeiros, decidindo exterminar os seus ativos mais velhos de forma a não ter de pagar as pensões de luxo que estavam acordadas.

Esta premissa absurda não o é tanto como se pode pensar, sendo aqui aplicada num negócio ilegal regido por figurinhas excêntricas e burlescas que até nos fazem lembrar o velhinho Dick Tracy. Mas Akerlund parece dever mais a Jan Kounen e Guy Ritchie na estética (fotografia e montagem), personagens e ações que nunca podem ser levadas a sério, tal a sua plasticidade. Não faltam ainda referencias pop (John Wick e o cão; uma pala à la Elle Driver ou Snake Pliksen), e um sentido muito meta de autoparódia, elementos que enriquecem nas entrelinhas um objeto aparentemente superficial.

O resultado final é algo entre Doberman e Crank, disparatado, absurdo, uma verdadeira fantochada na sua excentricidade, até porque quando se pensa que vamos entrar no campo do sentimentalismo vendido por psicólogos mascarados de guionistas, eis que um tiro ao acaso ou um ato de racionalismo cínico nos leva para um outro lugar completamente fora da caixa.

Por isso, este é um dos objetos mais disparatados e trogloditas do ano, mas acima de tudo “algo” que tem consciência da farsa que criou e diverte-se a estilhaçar com rios de sangue à mistura, tudo o que lhe aparece pela frente.


Jorge Pereira

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