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«Sauvages» (Selvagens) por Jorge Pereira

Desaparecido do cinema há quase duas décadas (Laguna, de 2001, foi o seu último filme), e com uma forte carreira na TV (Guillerme Tell, Mata-Hari, Highlander, etc), Dennis Berry regressa pela porta dos fundos com este Sauvages, um drama protagonizado por Nadia Tereszkiewicz e Catarina Wallenstein sobre a paixão avassaladora entre Nora e Lea, duas jovens enredadas em passados traumáticos que encontram na poesia e na vida selvagem urbana a sua forma “livre” de seguir em frente com a vida.

Construído “ao sabor do vento” (inicialmente não havia guião, apenas uma ideia na mente do realizador), até porque as duas atrizes estiveram disponíveis para as filmagens em tempos diferentes (Nadia não estava disponível para o início, Catarina para o fim), Sauvages procura sempre ser profundo, reflexivo e poético na sua desconstrução de personagens que não conseguem se enquadrar na sociedade (ou que esta não deixa enquadrar), mas falha nas suas pretensões, sendo antes um objeto existencialista prosaico de clara inspiração na Nouvelle Vague, mas com a ligeireza de uma betoneira a trabalhar numa biblioteca silenciosa.

Tudo por aqui soa a forçado (das interpretações aos diálogos) e pernóstico, acabando Berry por construir uma manta de retalhos obtusa que provoca mais risos inadvertidos do que uma verdadeira meditação. Acresce a isto uma débil direção de atores (veja-se Chloe, do mesmo realizador, e como a então jovem Marion Cottilard foi trabalhada) e uma inércia na construção e rumo para as personagens e história. As coisas pioram com alguns segmentos musicais e piropos artificiais e um último terço singular que cria foco numa personagem do passado da vida de Nora, que não só retira fulgor e sentido ao romance às duas mulheres, como contribui para a sensação de caos num filme que pensa ter algo de extraordinário para dizer, mas não tem.


Jorge Pereira