Quinta-feira, 25 Abril

«Mary Poppins Return» (O Regresso de Mary Poppins) por Ilana Oliveira

Com uma Emily Blunt sólida e perspicaz, Mary Poppins Returns constrói uma trama mais trabalhada no campo dramático, ainda que baseando-se na mesma estrutura e tom do seu antecessor.

A longa metragem apresenta desta vez os três filhos de Michael Banks, um dos irmãos da versão de 64, num recorte após a morte da mãe – nunca nomeada – e em meio à grande depressão inglesa. A dívida e a ameaça da perda da casa é o mote para que Mary Poppins reapareça para colocar a família Banks nos seus eixos novamente.

A comparação com Julie Andrews, neste caso, não pode ser considerada como uma injustiça e muito menos desnecessária, já que desenvolve-se aqui uma sequela de uma obra tradicional e merecedora de perpetuação. O trabalho do elenco neste sentido era dobrado pelo simples fato de entregar um produto final com as mesma relevância que o primeiro, ou mesmo até maior. Blunt, em uma sucessão de significativos trabalhos, confere camadas mais profundas sobre as características pessoais de Poppins, sua voz é mais grave do que a de Andrews, mas é fluida como a de sua atriz-cânone. Blunt não poderia ser melhor Mary Poppins para a atual geração, entretanto, para quem experienciou o trabalho primeiro, nunca deixará de preferir a doçura no olhar de Andrews.

Lin-Manuel Miranda interpreta um “apóstolo” de Bert, o acendedor de lamparinas Jack. Com expressões faciais dignas do estilo teatral, o seu olhar sonhador engajam rapidamente o espectador. Dick van Dyke, intérprete do brilhante personagem da obra de 64, faz uma aparição especial como um banqueiro e dança como nenhum outro senhor de 92 anos o faria.

Com um elenco escolhido a dedo, Mary Poppins Return também desenvolve o visual visto em seu anterior, com desenhos misturados aos atores e cores lúdicas que criam um universo completamente fascinante ao olho humano. A inovação tecnológica presente na primeira longa não está aqui, entretanto o estilo, a vestimenta e todo o sentimento de fascínio que traz com ela, estão. 

Todo o trabalho de figuração desenvolve um estilo de banda-desenhada que são referência temática e visual da sequência original, na qual os dois irmãos Banks fazem corrida à cavalo além de tomarem chá e descobrirem um novo “mundo” (o criado por Poppins). Também um exemplo disso é a sequência musical de Jack em relação à sua profissão e o passeio com as crianças.

Os seus números musicais, por vezes atingindo durações injustificáveis, são por si só nostálgicos, mas sem perder a oportunidade de evoluir em certos pontos técnicos e temáticos. Não seria pela duração de alguns e a falta de momentos mais catchy, o trabalho musical seria mais significativo. Em vários momentos, encontrei-me a cantar músicas da obra anterior.

Por fim, todo o peso dramático conferido a este projeto não é de todo vanguardista, caindo muitas vezes pelo já esperado e cliché, entretanto, o seu anterior não possuía uma narrativa pautada pelo conteúdo, mas sim pelo visual. A partir dessa análise temos aqui um novo Mary Poppins mais encaixado ao público-geral atual, sem fazer citações irónicas a movimentos sociais (como no de 64, em relação às sufragistas), tão lindo quanto o primeiro e com uma nova Poppins com muito para encher a cabeça das crianças com infinitas possibilidades.


Ilana Oliveira

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