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«Eighth Grade» por Jorge Pereira

Extremamente curiosa e franca a abordagem à adolescência que Bo Burnham aplica no seu Eighth Grade, filme que por diversas vezes cai nos lugares comuns e temas do género, mas que conta com uma força tremenda por parte da sua protagonista, Eisla Fisher, e um bom pulso e foco do cineasta Bo Burnham, que ao invés de fazer disto tudo uma comédia esquemática ou uma “Dramédia” típica do cinema indie norte-americano, acentua o caráter de estranheza e alienação da construção sociocultural enraizada num meio que a adolescência representa.

Os treze anos Kayla (Elsie Fisher) não são diferentes dos de Tracy (Evan Rachel Wood) em Thirteen, mas as suas opções, caminhos e experimentalismos diferem sobremaneira. Muito mais reservada, Kayla vive com o pai, um homem que se sente completamente fora deste período da filha, sendo a sua interação com ela recheada de momentos constrangidos e estranhos. Não é só em casa que Kayla se sente deslocada, na escola é muito pior, especialmente porque está em transição, na idade em que teoricamente transita “da criancice para a adolescência”, materializada pela tal chegada do Eighth Grade.

Todos os temas comuns deste período, como a popularidade, a descoberta do corpo, a sexualidade, e os perigos associados a isso são incorporados por uma Fisher que usa um canal de Youtube como escape de autoajuda numa busca identitária e na descoberta e construção da sua persona. Trocado em miúdos, Kayla não sabe o que é, nem o que quer, sentido-se afastada dos adultos, mas também dos adolescentes e igualmente das crianças, vivendo numa verdadeira terra de ninguém, experimentando identidades e ideias que estão ao seu redor.

As interações sucessivas que tem com os seus companheiros acentuam a sua ansiedade social constante, criando situação tão embaraçosas como genuinamente empáticas. Curiosamente, ao fazer o retrato de Kayla, Burnham faz igualmente o raio x de uma sociedade “monitorizada” e influenciada pelas redes sociais (as diferentes gerações começam e usam diferentes redes sociais), as quais agora definem quem é popular ou não, influenciando igualmente o que a nossa jovem quer ser e o que é.


Jorge Pereira