Sexta-feira, 29 Março

«Break – O Poder da Dança» por Jorge Pereira

O trabalho do coreógrafo Simhamed Benhalima sobressai num filme profundamente esquemático e desoriginal

Filme de superação com a dança em primeiro plano, este primeira longa-metragem de Marc Fouchard peca essencialmente pela desoriginalidade concetual, pela fraqueza do texto (em particular dos diálogos), pela construção binária das personagens (que vêm de “mundos diferentes”), sendo verdadeiramente o seu único triunfo as sequências de dança (coreografadas por Simhamed Benhalima), embora estas sejam também manchadas por uma realização demasiado intrusiva orientada para o espectáculo e repetição (planos de vários ângulos, cortes rápidos e atabalhoados da montagem) que transformam tudo numa linguagem mais próxima da publicidade e dos videoclipes, do que do Cinema.

O filme começa bem, com uma sequência na fachada de um edifício onde se faz um jogo a dois corpos (provavelmente) inspirado no trabalho da também coreógrafa Trisha Brown ou numa trupe de dança como os Bandaloop. Essa sequência culmina em tragédia e impulsiona o filme para a sua vertente de superação, da ultrapassagem dos medos pessoais, do reganhar confiança, acompanhando o espectador a jovem Lucie (Sabrina Ouazani de A Esquiva, que este ano já vimos em Táxi 5 e brevemente em Demi Soeurs/Enchatées), uma dançarina que parte para os subúrbios de Paris em busca do pai que nunca conheceu e na tentativa de aprender e evoluir na arte do breakdance. A partir daqui temos todos os clichés do universo dos filmes de superação, dos filmes de dança lançados pelos grandes estúdios (de cinema e de Tv), das obras românticas pastelonas e dos dramas familiares, não fosse a demanda telenovelesca da busca paternal propícia a isso.

Nas personagens, Lucie está entregue aos moldes básicos e pastiche do esquematismo e o seu comparsa de tela, Vincent (Kevin Mischel), um ex-dançarino que sacrificou a sua paixão mas regressa para a ajudar, não sai também da esfera de personagem de cartão já vista e revista. Mischel já tinha já dado um ar da sua graça em Divinas, que passou com fulgor pela Quinzena dos Realizadores em Cannes, mas aqui é um mero corpo dançante e objeto de paixão da protagonista com muito pouco ou nada para dar, para além do homem martirizado de alma “torturada” que de forma relutante regressa ao seu sonho para ajudar outra a cumprir o seu.

Com isto, o resultado final é um objeto como tantos outros (no esquematismo e fórmula de crowd pleaser), um projeto de superação (ou auto-ajuda) feito de altos e baixos de tons monocórdicos com pouca capacidade em sair das suas amarras/limitações técnicas, narrativas e comerciais.

Jorge Pereira 

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