Quinta-feira, 25 Abril

«Break – O Poder da Dança» por Raquel Soares

 

Após 5 Step Up (o franchise que começou com Channing Tatum) e 2 Street Dances, o género do “filme de dança” ficou um pouco com uma má imagem – associado a um tipo de produto mais espetáculo do que Cinema, conhecido por ter personagens com pouca substância, uma história inofensiva mas com grandes produções associadas. Break, no entanto, pareceu querer ser a exceção com uma abordagem mais real, uma peça focada na construção das personagens e não tão preocupada em ter coreografias quase impossíveis com imensos bailarinos.

O filme abre de maneira deslumbrante, a sequência de abertura é de tirar o fôlego. Alguma coisa na maneira como filmaram as personagens a rodopiar no ar, apenas segurados por arnês, apoiando-se delicadamente na faixa lateral do prédio, é infinitamente especial. E é mesmo nesta maneira do filme fazer fotografia que o projeto se constrói, sempre com uma atmosfera extremamente limpa, como se estivéssemos a ver as coisas à nossa frente e não através de uma câmara. Mesmos as cenas de dança são sempre acompanhadas deste realismo, impecavelmente cortadas e montadas de modo a que haja sempre uma energia que as rodeia. É impossível não ficar de boca aberta de espanto enquanto vemos as personagens a entregarem tudo o que têm à coreografia. No entanto, nunca existe dança como número musical, a representar simbolicamente um diálogo ou numa demonstração de estilo sem propósito. Estes momentos são sempre uma parte da história, algo que iria acontecer mesmo que as câmaras não estivessem lá (um ensaio, uma aula, uma audição , uma atividade regular entre amigos), o que contribui para a sua naturalidade.

A obra também é particular a nível narrativo. Começamos a história in medias res, não nos sendo dado nenhum tipo de “backstory” ou exposição dos protagonistas; não nos é explicado como chegaram ali, qual a relação entre elas ou quais as suas motivações, deixando assim o espectador a preencher as lacunas apenas com as pistas do que está acontecer à medida que a narrativa avança. Essa informação é relevada à medida que esta se torna relevante e apenas se for importante para a história, contribuindo para o caráter presencial, dando a sensação de estar a espreitar a vida de alguém. É assim especialmente bem sucedido o eliminar da mente do espectador o carácter de produto ficcional e mediado.

O mesmo se aplica às personagens que são complexas e humanas, nunca se optando por vilões ou heróis, colocando-as antes numa confrontação pessoal e intima. Sendo esse mesmo o principal tema do filme, como por vezes o nosso maior inimigo somos nós, e que não podemos deixar de nos apoiar nos outros por causa disto, a ligação criada entre os interpretes é bastante tocante, perdendo se tempo a explorar estas conexões numa forma que pode parecer lenta, mas que faz sentido para dar significado ao desenlace final.

No entanto, esta mesma simplicidade faz o pecado do filme. A sua história tem uma fórmula já vista em muitos outros filmes e acaba por não mostrar inovação no guião, que pode mesmo ser chamado de cliché, onde as personagens acabam por fazer escolhas que noutras fitas mais básicas fariam sentido, mas que contradizem tudo o que foi estabelecido anteriormente, havendo mesmo um decréscimo da qualidade nos últimos minutos.

Assim, Break é uma boa tentativa de fazer um filme de dança pessoal que prima pela qualidade técnica e pela naturalidade, mas que falha em surpreender.


Raquel Soares

 

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