Lizzie Borden had an axe.
She gave her mother 40 whacks.
When she saw what she had done.
She gave her father 41.
Há anos que Chloe Sevigny ambicionava interpretar o papel de Lizzie Andrew Borden – uma das figuras mais tradicionais e icónicas da cultura popular norte-americana – que foi levada a tribunal no final do século XIX pelo duplo homicídio do seu pai, Andrew J. Borden, e da sua madrasta, Abby Borden, mortos na sua casa com recurso a uma arma pesada e afiada no dia 4 de agosto de 1892.
A atriz – que sempre se destacou pela presença em obras polémicas (de Kids a Brown Bunny) e chegou a estar ligada a um projeto de TV que nunca avançou – entrega se de corpo e alma à figura mítica, mas é estranhamente mal secundada por Kristen Stewart (onde anda a protagonista de Personal Shopper?), que no papel da empregada irlandesa da família Borden nunca convence inteiramente, nem consegue uma verdadeira química de transgressão com uma Sevigny em grande forma e muitos furos acima.
Sevigny é mesmo o melhor que o filme tem para oferecer, na sua frieza e ambiguidade (louca? doente? fria?), até porque a direção de Craig William Macneill, extremamente convencional na forma e técnica, revela-se profundamente desapaixonada, em particular pelas personagens, pela relação entre elas, e por todas as transgressões que as duas representavam na sua época. O que o realizador consegue assim é transformar a tensão e contravenção num caso de “época”, um fait-divers de heranças, e – ao estilo de Colette e Mary Shelley – uma pouco impetuosa abordagem feminista às questões, pressões e injustiças da época. Na verdade, os temas, factos e especulações sobre o caso são lançados, mas existe uma parca desconstrução e análise dos mesmos, quer na sua implementação no contexto social da era, quer na sua trasladação ou ligação aos tempos atuais.
O resultado é assim um filme amorfo, uma tentativa de thriller psicológico sem psicanálise, um trabalho de questões e respostas simples, dispersas, tímidas, salvando-se a apresentação do crime em si, onde uma enorme carnalidade se funde com o calculismo glaciar da nossa Lizzie.
Jorge Pereira