Sexta-feira, 26 Abril

«Normandie Nue» (Tudo a Nu na Normandia) por Jorge Pereira

A Normandia está Em Guerra, mas rapidamente uma eventual incursão em território dramático-documental como no filme de Stephane Brizé é substituída por uma comédia ligeira com toques de crowd pleaser campestre pelas mãos de Philippe Le Guay, o responsável por Os Encantos do 6º Andar e De Bicicleta com Molière.

François Cluzet, ele que tem surgido diversas vezes em terrenos rurais (Médico de Província, Escola da Vida, História de uma Vida), dá o mote como o presidente da câmara da pequena localidade de Mêle-sur-Sarthe. Se em L’Origine ele ilude com a construção de uma estrada que vai ajudar um pequeno povoado a ganhar um novo alento, aqui ele organiza a ocupação de uma via principal com os agricultores que lutam contra a permanente queda do preço do leite e da carne – algo que os está a matar aos poucos o negócio.

Marcada historicamente pela 2ª Guerra Mundial, o pequeno vilarejo tem visto grande parte dos seus negócios desaparecerem, sejam as lojas de fotografia, sejam os ligados a trabalhos agrícolas, situação que já levou ao suicídio de alguns. Desperados em encontrar uma ação de luta que lhes dê visibilidade nacional, para além de um mero apontamento de 2 minutos num telejornal, as gentes locais são desafiadas por um fotógrafo de renome internacional a despirem-se para uma obra de arte, o que vai provocar um grande reboliço, levantando questões antigas sobre cadastro das terras e debates internos sobre o significado do ato que podem vir a realizar.

Levantando a questão dos problemas das regiões interiores com os tempos modernos, com a maior concorrência que o mercado livre dentro da União Europeia trouxe, e como a tecnologia veio ajudar quem veio das grandes cidades para o campo (como a personagem interpretada por François-Xavier Demaison, mas criou problemas no sentido inverso), Normandie Nue vai de situação em situação divertindo o espectador sem nunca conseguir ser profunda ou sequer original, caindo mesmo por demasiadas vezes em clichés melosos nas relações amorosas e em diferentes situações típicas das comédia de costumes (especialmente quando opõe franceses e americanos).

Quem sai imune a isto é Cluzet, que mais uma vez brilha no papel de apaziguador numa terra marcada por uma longa história de contrariedades, um pouco como o fazia em Médico de Província, onde mostrava que a sua ação ia mais além da medicina. Destaque também para Toby Jones no papel de um fotógrafo atípico e antissocial com muito pouca sensibilidade, mas grande visão artística; e a presença verdadeiramente dramática ligada a um rivalidade histórica entre Philippe Rebbot e Patrick d’Assumçao.

Assim, fica a clara sensação nesta comédia que tudo podia ser muito melhor explorado, especialmente a nível de sátira, sendo particularmente frustrante a reta final e todo o simplismo que deixa no espectador uma falsa sensação de resolução.


Jorge Pereira

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