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«Utøya 22. juli» (Utoya, 22 de Julho) por Jorge Pereira»

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69 jovens perderam a vida na pequena ilha de Utoya, na Noruega, a 22 de julho de 2011, um massacre perpetrado pelo terrorista de extrema direita, Anders Behring Breivik, uma figura praticamente invisível neste filme de Erik Poppe, mas tremendamente audível nas constantes rajadas de tiros que dispara.

A escolha do cineasta para este seu Utoya: 22 Juli foi focar-se nas vítimas, usando o tempo “como uma personagem”, fazendo-nos percorrer grande parte desta experiência através de um único take de 72 minutos que nos submerge naquilo que os miúdos passaram durante todo esse tempo sem que as autoridades intervissem. Poppe opta também apenas por seguir em específico uma personagem, Kaja (Andrea Berntzen), que ora sozinha, ora acompanhada por outros jovens, nos vai mostrando a terrível experiência, sempre vagueando entre estados de incredulidade, dúvida (a polícia está a disparar? Onde está a irmã de Kaja), terror, mas essencialmente drama, tudo sem nunca se vislumbrar o assassino ou saber exatamente onde ele está.

Claro está que ao escolher esta forma de apresentar as coisas, Poppe coloca o seu filme e o seu objetivo em risco, pois será que a técnica não se sobrepõe à mensagem? Será que este, tal como outros filmes na mesma linha, como Victoria, não ficam rotulados como o filme do único take? Se é verdade que se torna absorto o rótulo de filme que parece videojogo (até o seria se desse a perspetiva de Breivik e não das vítimas),  a verdade é que estamos perante um trabalho duro, cru, sem medo de sujar as mãos, mas nunca manipulador ou de exploração sentimental, política e até militante. Acima de tudo, este é um trabalho que grita humanismo, mostrando os horrores do “ato de matar” e a “banalidade do mal”.

Ao vermos simplesmente o ato do perpetrador – uma matança – pelos olhos de quem foge e se esconde dele, e sem qualquer atenção ou destaque ao seu discurso de ódio e motivações, Utoya 22 de Julho revela-se assim um trabalho em bruto, destinado a chocar, mas acima de tudo educar e informar, embora como a nossa personagem principal diz logo na abertura do filme, quebrando a famosa “quarta parede“, nós nunca vamos perceber (ou sentir) o que ali realmente aconteceu e porquê.


Jorge Pereira