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«Little Italy» (Amor em Little Italy) por Raquel Soares

Sítios como Chinatown e Little Italy apresentam-se como representações físicas de tradição e família, uma tentativa de manter contacto com a terra natal quando se é obrigado, por um motivo ou por outro, a abandoná-lo. Existe algo de fascinante nestes bairros criado por imigrantes numa tentativa de trazer um pouco da essência de um país para outro. No entanto, existe o argumento que estes conduzem, inevitavelmente, a uma maior segregação das comunidades e a impossibilidade de verdadeira integração no novo país.

O filme Little Italy conta a história de duas famílias de descendência italiana que vivem num desses bairros, este situado no Canadá. No entanto, em vez de ser uma necessária reflexão sobre as raízes familiares e como estas se refletem nas gerações seguintes ou um complexo retrato da vida nestas comunidades, é uma tentativa cansada de comédia romântica. 

O foco do filme encontra-se na história de amor (se podemos chamar-lhe isso) dos dois adolescentes (faz sentido quando olhamos para os antigos filmes do realizador [Donald Petrie], entre os quais se encontram  os populares nomes do gênero tal como How to Lose a Guy in 10 Days e Miss Congeniality). No entanto, torna-se claro desde os primeiros minutos que este filme não vai ser tão memorável como os seus antecessores.

Arrancando como um voiceover forçado, sem qualquer explicação estrutural, em que as duas personagens contam através de um diálogo melosos o que aconteceu na sua infância. O filme tende a melhorar um pouco a partir daí. As personagens estão embrenhadas em estereótipos italo-americanos:  donos de loja de pizza, que gesticulam constantemente, que bebem vinhos e muito católicos. Como de papel fossem feitas, estas nunca saiem dos seus moldes, preenchendo apenas papéis pré-definidos: os pais em guerra, a avó sabia, o indiano que trabalha no restaurante, a indiana que trabalha no restaurante (duas personagens que servem como comic relief em piadas que roçam o racismo), as amigas que só falam de sexo,: nunca chegam a ser humanos. Os únicos a que o filme se dá ao trabalho de dar um qualquer desenvolvimento  são o par romântico que consegue ultrapassar a caricatura, mas nunca se tornam realmente complexos ou interessantes.

No entanto, o que se torna paradoxal neste filme é a falta de referência a Itália, o qual esta nunca é discutida, apenas apresentada através de símbolos que estão permanentemente a sair e a entrar do ecrã. Para além da óbvia pizza, do futebol, das vespas e da música italiana, estamos permanentemente rodeados de verde e vermelho. Existe mesmo um uso de cores numa saturação quase enjoativa durante todo o filme.

A narrativa é, acompanhando o resto, completamente cliché sem uma ponta de originalidade  seguindo as batidas tradicionais de um filme de adolescentes da Disney. Visto que está constantemente, já que não tem nada para dizer, a recorrer a mecanismos forçados para criar conflito. Por exemplo, a criação de uma namorada “fútil e chata” para surgir em uma só cena e, não voltando a ser sequer mencionada. Little Italy anda em círculos, repetindo uma e outra vez as mesmas situações, um espetáculo em loop até que tudo se resolve magicamente numa típica cena de aeroporto

Assim, apesar de ter um conceito com potencial, Little Italy torna-se uma colagem de frases feitas e atuações medíocres e piadas extremamente forçadas, onde o completo desinteresse dos que o fizeram é mais que evidente. O filme acaba com uma frase que tenho, literalmente, no quadro da parede da cozinha da minha casa. Acho que isso diz tudo.

Raquel Soares