Quinta-feira, 25 Abril

«Grinch» por Jorge Pereira

Grinch, o maldisposto

O natal está a chegar e começam a revelar-se as apostas das distribuidoras este ano para encherem as salas de cinema de crianças e pais (arrastados com elas). Grinch é uma delas, uma nova e simples adaptação do conto infantil de Dr. Seuss, publicado em 1957, sobre uma criatura verde que odeia o natal e que vai roubar os presentes de uma vila inteira na noite da consoada.

Não existe nada de realmente novo, nem de muito estimulante nesta aposta da Universal, da mesma produtora dos Minions, quer em termos técnicos, quer em termos narrativos, personagens, ou até na mensagem que se quer passar: mesmo a pior pessoa pode mudar e devemos lhe dar uma nova oportunidade e amor.

Na verdade, e por aqui, tudo é demasiado tíbio, algo que podia até funcionar como vantagem (ligação ao original e minimalismo), mas que acaba por se revelar um entrave para conquistar novas gerações habituadas a trabalhos mais mirabolantes e recheados de personagens de grande impacto. Infelizmente, Grinch (na voz de Benedict Cumberbatch, sem grandes mais valia para a personagem) perde o tom sinistro e adquire uma aura mais de Grinch – O Maldisposto, e nenhuma outra personagem (a pequena Cindy Lou, incluída) é suficientemente marcante ou profunda para funcionar como acréscimo de densidade ao enredo. Sim, temos a mãe da menina (resume-se a trabalhadora e querida), um amante do natal que arranjou uma árvore gigantesca para a vila, um cão que faz companhia a Grinch e que serve para um par de piadas (com um bateria), uma rena obesa que surge e desaparece quase sem se dar conta, e uma cabra cuja a única função é berrar, berrar e berrar. Somadas todas, no próximo natal não nos devemos nos lembrar de nenhuma (tirando a cabra, que pode eventualmente tornar-se viral).

O bom cinema de animação sabe que para além de ter uma boa história repleta de emoção, precisa de personagens secundárias marcantes para as suas várias facetas (drama, comédia, etc), sendo esse um complemento essencial para enriquecer uma história principal normalmente recheada de aventura, humor e sensibilidade. Aqui, tudo é demasiado ligeiro, demasiado visto e a própria irreverência da personagem principal revela muito pouca ousadia num filme que na sua generalidade tem o coração “duas vezes menor” do que devia.


Jorge Pereira*
(O filme foi visto na sua versão falada em inglês com legendas em português).

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