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«Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald» (Monstros Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald) por Ilana Oliveira

J. K. Rowling, ao criar a nova saga Fantastic Beasts, ultrapassou os limites do papel e aventurou-se no ambiente cinematográfico como argumentista. É uma pena dizer que falha grandiosamente como tal.

O primeiro tomo da extensão do universo de Harry Potter funcionou com o equilíbrio certo entre a melancolia e o desprendimento da personagem que acompanhamos durante 10 anos, além de adequar-se aos novos standards de efeitos especiais da indústria. A trajetória de Newt Scamander, proveniente da casa Hufflepuff (secundária na saga original), passa-se nos anos 20 e introduz novas personagens com o mesmo potencial de despertar fascinação e medo nos espectadores. Entretanto, em Crimes of Grindewald, o argumento geral é um apanhado de clichės revisitados e falhas grotescas de desenvolvimento das personagens.

A inconsistência do filme resulta numa série de episódios vazios, onde toda e qualquer intenção é de preparar o público para o que ainda está por vir no próximo filme. Os primeiros dois terços gastam todo o seu tempo a apresentar novas personagens, como Leta Lestrange, Rosier, Nagini, Theseus Scamander e o próprio Albus Dumbledore, mais jovem, ao mesmo tempo que não lhes dá nenhuma camada de profundidade ou contribuição geral para a narrativa.

A banda sonora fica a cargo de relembrar ao público momentos em que ele deveria estar ansioso ou esperançoso, como em todos os momentos que apresenta Dumbledore numa aura iluminada musicalmente lúdica, já que as próprias audiências encontram-se desmotivadas a acompanhar a repescagem de Scamander e Tina Goldstein, que sofre com a falta de diálogo digno de comédias românticas de segundo escalão. Além de despir de Leta Lestrange toda a roupagem misteriosa, proveniente de uma família talvez “amaldiçoada”, para transformá-la numa menina traumatizada e que se culpa a si mesma por uma falha quando criança. O argumento ainda faz questão de cozinhar toda a sua história em “banho-maria” com sua procura interminável do jovem Credence, juntamente com o crescimento da “ameaça” proposta por Grindewald, que ainda não teve suas motivações expostas.

Toda e qualquer polémica acerca da homossexualidade de Dumbledore e do seu antigo relacionamento com o vilão é referenciado no filme durante um diálogo medíocre, onde nada é posto às claras. Acrescido com a continuação de Johnny Depp em seu papel central na trama, mesmo depois dos escândalos de violência contra a sua ex-mulher e atriz Amber Heard, o posicionamento de Rowling face às atuais críticas, demonstra a mesma superficialidade com que Depp trabalha a sua personagem, que ganha minutos a mais de ecrã em relação ao filme anterior, e que não consegue equiparar-se ao antecessor vilão da saga, Voldemort, interpretado por Ralph Fiennes.

As atuações subaproveitadas pelas falhas sequenciais do argumento de Rowling, somada à realização confortável e simplesmente eficiente de David Yates (agora realizador de seis longas-metragens dentro do universo Harry Potter) conferem à obra a sua definição de desnecessária e não possuidora de nenhuma alma heroica ou grandiosa presente na saga original, tendo apenas um ponto positivo de facto: o trabalho da direção de arte e de efeitos especiais, a única parte realmente mágica e empolgante do projeto.

 

Ilana Oliveira