Quinta-feira, 25 Abril

«Belleville Cop – O Super Agente» por Jorge Pereira

Depois de uma série de filmes dramáticos, “pesados” e reflexivos sobre a relação entre a os norte-africanos com a França (Indigenes; Fora da Lei), que lhe valeram elogios e passagens pelo Festival de Cannes, Rachid Bouchareb decidiu avançar em 2011 para uma “trilogia americana” que iria avaliar as relações entre os Estados Unidos e o mundo moderno .

O primeiro dos três filmes seria uma comédia descontraída na forma de Belleville Cop, com Jamel Debbouze e Queen Latifah no elenco. O filme nunca avançou e, ao invés, o realizador avançou em 2012 com a trilogia através de um telefilme (Just Like a Woman) pela estrada fora com Sienna Miller e Golshifteh Farahani numa espécie de Thelma e Louise. Seguiu-se La Voie de l’ennemi (Two Men In Town), em 2014, com Forest Whitaker, Harvey Keitel e Luis Guzmán, uma nova visão de Dois Homens na Cidade (1973). Foram precisos quatros anos para “encerrar” a trilogia com aquele que seria inicialmente o primeiro dos filmes a executar, um buddy cop movie sem Jamel Debbouze e Queen Latifah nos papéis principais, mas com a estrela de Amigos Improváveis (Intouchables), Omar Sy, e Luis Guzmán.

Sy é Baaba Keita, um policia no bairro chinês de Belleville, em Paris, que lida principalmente com carteiristas. Estiloso, divertido e até conhecedor de artes marciais e várias línguas, Baaba decide partir para Miami quando o seu melhor amigo, Roland (Franck Gastambide, de Taxi 5), é assassinado à sua frente num restaurante parisiense. Com ele nessa aventura pelas américas segue a sua mãe intrusiva (Guy Bedos) e lá ele vai ter como parceiro Ricardo (Luis Guzman), um detetive com métodos muito diferentes e que segue todas as regras “by the book“.

Homenagem aos filmes dos anos 80, em particular a O Caça Polícias (Beverly Hills Cop), Belleville Cop – O Super Agente é uma viagem de pretensões cómicas entre três continentes com o dedo de Larry Gross, argumentista de 48 Horas e 48 Horas- Parte II (comédias de ação que colocavam lado a lado Nick Nolte e Eddie Murphy). Se juntarmos à lista de influências e até referências Arma Mortífera e Miami Vice, temos uma amostra daquilo que Bouchareb procurava para esta fita: uma comédia com ação pelo meio e duas personagens suficientemente carismáticas para darem voz ao seu guião que envolve tráfico de drogas, fundações humanitárias e ditaduras africanas.

Na verdade, o carisma de Sy e Guzman está presente neste Belleville Cop, bem como existe química entre a dupla no grande ecrã, faltando apenas um argumento menos preguiçoso que não se limite a esperar pelos resultados a partir de textos e personagens repletas de clichés e lugares comuns. Falta realmente uma maior incisão dos argumentistas para além do superficial e facilitismo de quase tudo, como quando Baaba decide ir para Miami e tem tudo à mão, ou então quando a dupla procura um criminoso DJ, vê um avião na praia a anunciar a abertura de uma nova discoteca, e assume por natureza que certamente ele estará lá (Miami deve ter poucas discotecas).

Em suma, Belleville Cop poderia funcionar como um bom ensaio escapista para um cineasta habituado a outro tipo de material (dramas), mas resultou num trabalho inconsequente que mais parece um show reel ou hit parade das comédias dos ’80 do que uma obra com uma verdadeira identidade, unicidade e até contemporaneidade.


Jorge Pereira

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