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«Operation Overlord» (Operação Overlord) por Jorge Pereira

Pouco inspirado, Operação Overlord é o dia D para a geração dos videojogos

Overlord foi o nome de código para a Batalha da Normandia, a operação aliada que iniciou a invasão da França ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Este filme de Julius Avery começa no ar, com um batalhão de soldados aerotransportados cuja missão é destruir uma torre de controle aéreo, de forma a impedir que a Luftwaffe pudesse atacar as inúmeras embarcações que se preparam para o dia D, permitindo ainda o contra ataque aliado

Os primeiros momentos de Operação Overlord são frenéticos e vibrantes, com a cinematografia de Laurie Rose e Fabian Wagner a mereceram destaque no jogo de cores intensas de homens e aviões versus fogo e fumo. Primeiro somos apresentados às personagens que vamos acompanhar ao longo do filme, fornecendo-nos dicas sobre as suas personalidades: o tagarela (Tibbet), o misterioso e taciturno (Ford), e o extremamente humano (Boyce), entre outros. É também aí, num estilo profundamente realista e espetacular que assistimos a um ataque aéreo à boa maneira de Hollywood (visualmente espanpanante e sonoramente exemplar) que vai levar os nossos soldados a lançarem-se de paraquedas para completar a missão.

Já no solo, e para dar mais intensidade à trama, são adicionados elementos sobrenaturais que vão levar os nossos homens a adicionarem missões extra à principal, qual videojogo, qual quê. Pegando nas experiências médicas nazis, Avery oferece uma visão superficial e terrena dos eventos apenas com o entretenimento escapista como fim. A forma como a narrativa está estruturada e a ação avança é reminiscente de videojogos da saga Castle Wolfenstein, onde não faltam as criaturas diabólicas e vilões de rosto deformado que parece cópia do Two-Face de Batman.

Ora, estes elementos são implantados num enredo que tem ainda mais alguns pontos na agenda. Primeiro realçar o patriotismo à americana, apresentando as visões políticas e militaristas bifurcadas que acompanham os EUA nas últimas décadas: de um lado temos os conservadores, pró-tortura, cujos meios justificam os fins, e cujas missões são para cumprir cegamente: do outro, os liberais, repletos de humanidade e embaixadores do fundamento moral (moral high ground), capazes de quase sempre agirem com a clarividência e racionalidade que separa os homens das bestas. No jogo dos dois temos um dos filmes mais artificiais que se desenrolam na segunda guerra mundial. Não basta chamarem boches (Krauts) aos alemães para estarmos perante homens e comportamentos dos anos 40. Na realidade, e desde que assistimos a um tenente num avião a dar ordens, sentimos que estamos perante um trabalho cheio de contemporaneidade “cool” transplantada para uma época bem diferente. Os créditos finais ao som de “Bridging the Gap” de Nas sela essa mesma sensação.

Acresce a esse artificialismo os clichés e lugares comuns da história e personagens, principalmente após surgir uma rapariga francesa que cuida do seu irmão. A partir daqui, o filme descamba, perde credibilidade e interesse, torna-se estranhamente desritmado, culminando num exercício plástico que nem o gore e algum tom “camp” do último terço conseguem salvar.


Jorge Pereira