Sábado, 20 Abril

«Halloween» por José Pedro Lopes

Chega um novo Halloween aos cinemas, e este promete apagar um passado de más sequelas e criar sim a sequela definitiva ao filme de John Carpenter.

Isto é história antiga para qualquer fã de terror e do fantástico em geral. Leatherface era sequela direta que ignorava as outras entradas de Massacre no Texas, Duelo Imortal 3 ignorava o segundo filme que introduzia extraterrestres à narrativa, e até mesmo Halloween – Vinte Anos Depois também ignorava a trilogia de sequelas com Danielle Harris. É um fado no género – sequelas as mais, mas sempre o ponto de pretensão de dizer que esta é melhor.

Em alguns pontos, Halloween justifica essa pretensão. Este regresso ao mito de Michael Myers tem muitos pontos a ser favor. O tom é sério, e o ritmo da primeira metade é forte. Este Michael já reformado mata 19 pessoas no filme, David Gordon Green não poupa no “gore” e impõe um slasher com a agressividade exigida. É um filme de terror blockbuster mais músculo que a maioria.

Aliás, Halloween arranca muito bem, seguindo dois podcasters que querem descobrir a verdade sobre Laurie e Michael. O desfecho, prematuro, da sua história é uma surpresa. E quando Michael chega a Haddonfield e o terror arranca, o filme parece perder a cabeça e ser o Halloween duro que se querer, mas que não se espera num filme de grande público como este. Este Michael de regresso lança o terror porta à porta – aliás, como esta nova abordagem sugere. Se Michael não é irmão de Laurie, então toda a gente é um alvo.

A narrativa de Laurie Strode e das suas filhas é interessante, mesmo que com um desenvolvimento muito atabalhoado. E é aí que Halloween começa a perder força: numa narrativa onde Michael Myers não é irmão de Laurie Strode, a dinâmica teria de ser outra. Laurie não é importante para Michael, só ele para ela. E nesse ponto, a história perde força e, mais grave, deixa que o “climax” final seja entregue à conveniência do que o filme quer e não ao que a história parecia levar. O filme força o encontro dos dois, porque é o que está no poster – mas não é o que nos prometem.

Aliás, isso fica patente no plano final do filme, que sugere um “caminho” a seguir para um segundo filme que faria sentido na versão Rob Zombie do mito ou na saga original, mas não aqui.

Nada de muito grave, mas David Gordon Green e o seu produtor Jason Blum merecem uma lição de modéstia. Este novo Halloween está a ignorar sequelas melhores do que ele. Halloween 20 Anos Depois opunha um regressado Michael Myers e uma traumatizada Laurie Strode de forma muito mais eficaz e memorável. O díptico de Rob Zombie (que eu pessoalmente gosto muito) mostra um Michael mais terreno e “hardcore” de forma muito mais sórdida que este. Já o Michael místico de Halloween II ou Halloween 4 – O Regresso do Michael Myers é bem mais assustador que este.

Este novo Halloween corre o risco de, a longo prazo, ser das sequelas mais esquecidas da saga, pela forma como quis desdizer as demais sequelas.

Um ponto final para a banda sonora do regressado John Carpenter: é incrível. É o ponto mais forte da empreitada. John, se nos estás a ler, sai da reforma!


José Pedro Lopes

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