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«A Star is Born» (Assim Nasce Uma Estrela) por Ilana Oliveira

Após a determinação de altos standards de qualidade pela versão de 1954, com Judy Garland, o remake de Assim Nasce uma Estrela proposto por Bradley Cooper precisava justificar sua existência. O quarto filme produzido sob a mesma trama, entretanto, surge como um novo clássico cinematográfico para o grande público, e, de certeza, marcará a nova geração.

A atual rainha do pop, Lady Gaga, é um de seus fatores mais expressivos para atingir o público que se interessa maioritariamente por filmes populares, porém, ao mesmo tempo, entrega aos entusiastas da sétima arte um trabalho de atuação digno de pedestal. E é assim que reconhece-se um artista completo, ou, mais diretamente, aquele que dá 100% de si naquilo que propõe a concluir.

O Assim Nasce Uma Estrela de Bradley Cooper não pretende afastar-se de seu cânone, muito menos revolucionar sua estrutura e conteúdo narrativos, porém isto é de longe um ponto negativo. Cooper coloca coração e mente em sua realização, trazendo ao grande ecrã um trabalho cheio de estilo, significação e referências. Desde suas citações diretas às sobrancelhas e música de Édith Piaf, até as auto-referências feitas em uma simples angulação de câmara, provam que o, até então, ator de comédia de Hangover, vem mostrando possuir um talento e tanto para o género dramático, e, agora, para a realização.

Complementada por uma memorável cinematografia com harmonias entre o vermelho e o azul, além de belas paisagens do interior, a mise-en-scène confere diversas mensagens multicamadas. Luzes super expostas que geralmente estariam em um show de rock, muitas vezes presente em momentos da trama, ficam confronto com o olhar do espectador, mesmo que a cena não seja em um show especificamente. Existe ainda uma certa sensação sinestésica nos planos detalhes da longa-metragem, presentes em uma medida de conta-gotas, dando maior relevância para os mesmos. E, assim, é possível imaginar-se realmente a segurar o rosto de Gaga e o espectador confrontar-se com os seus olhos. Crédito da câmara subjetiva que, durante todo o filme, nos coloca dentro das aflições e anseios dos personagens.

Não só em técnicas visuais o trabalho de Cooper merece ser prestigiado. Sua atuação como Jackson Maine é completamente humanizada e realista, representando toda a trajetória de sua luta ou entrega para com as drogas e bebida, demonstrando um homem já condicionado em sua situação e com poucas perspectivas de melhora. Maine possui tudo que um personagem de sucesso poderia ter, a trajetória do self-made man, galã, porém com um drama pessoal definidor, o interessante é pensar que já não o vimos antes sob diversos outros nomes e em diversos outros filmes, por conta do sucesso de Cooper em sua personificação.

Lady Gaga, entretanto, é o que faz o espectador pensar “é por isso que vim até aqui!”. A força de sua personagem como mulher (com pontas feministas bem claras em seu discurso), é presente em cada olhar, e a força como artista poderia ser resumida em uma metáfora para a libertação de uma ave cautelosa antes de voar. Ser ovacionada durante 8 minutos em Veneza é simplesmente aterrador, assim como seu canto em “Shallows”, ou em “I’ll Never Love Again”. Mesmo como estreante em longa-metragem, Gaga já vislumbra a sua indicação ao Oscar de melhor atriz.

A equipa de atores também é agraciada pela presença fraterna de Sam Elliot, que consegue emocionar sem ao menos dizer uma palavra, e Dave Chapelle, exercendo um papel de mentoria sobre o personagem de Cooper.

As músicas e excelente trabalho da equipa de mixagem de som em Assim Nasce uma Estrela são, no final, um complemento e uma expressão dos sentimentos de seus personagens principais, acrescentando mais uma riqueza ao longa: a capacidade de mostrar-nos suas aflições, e não simplesmente fazê-los exporem com palavras seus conflitos internos, correndo, assim, o risco de empobrecer sua narrativa.


Ilana Oliveira