Quinta-feira, 28 Março

«Mile 22» por Jorge Pereira

O heroísmo e o patriotismo são as praias de Peter Berg, cineasta categorizado por Hollywood como uma espécie de pós-Michael Bay, ele que curiosamente começou em Hollywood com uma obra clara do cinema pós Tarantino: Eram Todos Bons Rapazes.

Nesta nova colaboração com o seu ator fetiche, Mark Wahlberg, Berg retorna ao heroísmo militarizado (ele que assinou Batalha Naval e O Sobrevivente), fazendo um intervalo em histórias mais pessoais, do americano comum chamado para lidar com um evento terrível (Horizonte Profundo – Desastre no Golfo ; Patriots Day – Unidos Por Boston). O problema é que este Mile 22, quer como jornada heroica, filme de escolta ou thriller de ação, nunca funciona, vivendo mais uma vez de uma outra sequência e não num bloco como se exigia.

Aqui seguimos um grupo ligado à CIA que tem de lidar com os problemas “impossíveis”, funcionando como a elite dentro da elite. Wahlberg é um líder nesse campo, um sobrevivente sobredotado desde tenra idade, e que aqui encontra um propósito ou obsessão pelo trabalho, tendo sempre em vista o bem maior. Passando grande parte do filme de forma hiperativa a dizer a ou gritar a todos que quer soluções e não desculpas, Wahlberg, ou antes, James Silva, é confrontado com um delator (Iko Uwais) que tem o segredo que a CIA deseja para evitar um evento terrível. O problema é que Uwais quer fugir a todo o custo da cidade onde está, usando aquilo que tem como moeda de troca para conseguir o seu objetivo.

É assim numa corrida contra o tempo pouco energética que encontramos Wahlberg e companhia a tentar resolver e “decifrar” a situação, estando metidos no combo de atores Lauren Cohan como uma agente durona quando não está a falar com a filha que raramente vê, um John Malkovitch em modo figura de cartão no meio do caos e Ronda Ramsey por lá perdida sem grande destaque ou brilho.

Mas o pior mesmo deste Mile  22 são as sequências de ação pela cidade. Se as que envolvem artes marciais (com Uwais) têm algum interesse e espectacularidade pela proximidade a que são filmadas e pelos cortes rápidos incutidos pela montagem, quando vamos para situações como as perseguições no trânsito, as coisas pioram, como que se o cineasta quisesse mostrar o caos com os caos cinematográfico. O resultado é uma tremenda confusão, minada ainda por sacrifícios “lamechas” plantados para nos aproximar empaticamente destes homens que estão dispostos a dar a vida pela pátria.

Quando chega o final, a reviravolta revela-se menos inteligente do que quer ser, resultando tudo num filme com pouco ou nada para dizer e ainda menos para mostrar.


Jorge Pereira

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