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«Alpha» por Jorge Pereira

Depois de vários trabalhos individuais no campo do documentário e das curtas-metragens, e algumas produções assinadas a meias com o seu irmão Allen, Albert Hugues entrega com este Alpha um trabalho visualmente belo mas pouco credível e emocionalmente manipulador sobre o princípio da domesticação canina.

No filme estamos 20 mil anos antes de Cristo, no Paleolítico Superior, algures na Europa, e uma tribo prepara um ataque a bisontes. O filho do líder dessa tribo, Keda (Kodi Smit-McPhee) é ferido nesse confronto, dado como morto e deixado para trás. Quando desperta, começa uma jornada de regresso à sua família e tribo, lutando pelo caminho com uma matilha de lobos, mas tornando-se companheiro inseparável de um deles.

O resultado é uma história de sobrevivência, um coming-of-age há milhares de anos atrás e uma análise à relação entre os homens e os animais em tempos pré-históricos com muita sacarina e superficialidade à mistura. Os dois, jovem e lobo, colocam-se numa jornada por terras ora áridas, ora geladas, claramente dando a ideia da duração desse percurso, que passa por algumas estações do ano.

Um dos elementos logo a destacar é uma certa modernidade do pensamento e atitudes aplicado à sociedade humana primitiva, com as ideias de Keda em relação à matança dos animais a soar demasiado aos dias de hoje. As visões da própria tribo, parecem também modernas em tempos antigos, com pensamentos sobre morte, coragem e heroísmo e até relações familiares que claramente evoluíram ao longo de milhares de anos, mas aqui dão a entender que eram quase iguais às de hoje. Falta assim um verdadeiro sentido de autenticidade, um problema que nunca nos larga desde os primeiros momentos.

E se esteticamente o filme tem uma beleza indesmentível, a verdade é que a certo ponto isso torna-se praticamente redundante, carregando o cineasta na palete de cores e saturação (ou falta dela) para mostrar o ambiente inóspito que vai acompanhar Keda no seu regresso a casa, entre estepes e montanhas, sempre perigosas e difíceis de atravessar.

O resultado final é assim um filme tipicamente da linhagem Disney, um crowd pleaser nunca verdadeiramente espectacular (fora o visual) e sempre de olho nas emoções primárias do espectador como qualquer filme de sobrevivência pastelão com pouco ou nada para dizer o faz.


Jorge Pereira