Sexta-feira, 29 Março

«Billionaires Boys Club» (Clube dos Bilionários) por Jorge Pereira

Sem querer, Billionaires Boys Club vai ficar conhecido como o último projeto de Kevin Spacey a chegar aos cinemas. Anunciado em 2010 e filmado em 2015, o filme que teve meros 540 dólares de receitas nos cinemas norte-americanos pode-se até queixar do escândalo em torno do ator nos seus resultados, mas criativamente e cinematograficamente é fácil dizer que Spacey representa uma mais valia numa história derivativa com quase nada para dizer sobre trapaceiros da alta finança nos anos 80.

São notórias as influências do cinema de Oliver Stone (Wall Street) e Martin Scorsese (O Lobo de Wall Street) nesta história de dois jovens que engendram um plano de ficar ricos tendo como base uma filosofia do paradoxo – onde a imagem que eles mostram é mais importante do que a verdade, e onde algo mau é transformado em bom. “A diferença entre um investimento de alto risco e um esquema Ponzi (em pirâmide) está no facto de resultar ou não”, diz uma das personagens a certo ponto, Joe Hunt (Ansel Elgort), justificando o seu modo de ver as coisas alienado, onde classe média é vista como o oposto de riqueza (não é a pobreza?). O filme é, contudo, narrado pelo parceiro de Hunt, Dean Karny (Taron Egerton), num estilo redundante e extremamente em modo dèjá vu que entretanto parece ser o derradeiro cliché de filmes sobre trafulhices (financeiras, ou não).

No meio disto está Kevin Spacey, na forma de um investidor obscuro que se cruza com os dois rapazes após alguns negócios com carros. A personagem, tal como na maioria dos filmes de Spacey, é do melhor que o filme tem para oferecer, e quando a certo ponto ele sai de cena, então notam-se mais as deficiências de um projeto que não sabe tratar nenhuma personagem feminina para além dos lugares comuns do género.

Sim, o “Boys” do título poderia ser suficiente para perceber que o foco de toda a questão e alvo da narrativa são os rapazes e os seus esquemas, mas a personagem de Sydney (Emma Roberts) é tão insípida e regida a mero objeto (artístico/sexual) que acaba por enfraquecer todo o trabalho. Nesse aspeto, quer Daryl Hannah em Wall Street ou Margot Robbie em O Lobo de Wall Street davam uma nova dimensão e outras camadas às suas produções, sendo mais que uma montra de velho riquismo materializado duma namorada “troféu”.

E se o facto de termos passado recentemente por uma crise financeira, onde o escândalo de Bernard Madoff teve importância soberana, levou a uma nova vaga de filmes sobre trapaceiros da alta finança, James Cox não soube aproveitar isso, não arriscando em fazer algo diferente ao já visto, mesmo tendo na bagagem uma história dos anos 80 que bem podia ser considerado o coming of age da alta finança moderna e do surgimento de novas legislações para travar novos crimes económicos.


Jorge Pereira

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