Sábado, 20 Abril

«Momo» (Querida Mãezinha) por Jorge Pereira

Trinta e cinco anos depois de contracenarem em Les babas cool (1981), Christian Clavier e Catherine Frot reencontram-se no grande ecrã nesta adaptação da peça de teatro de Sébastien Thiéry sobre um casal que vê as suas vidas invadidas por um jovem surdo (também Thiery) que diz ser filho deles.

Filme de enganos, desenganos e de forte componente de tragicomédia familiar, esta farsa de tons da “comédia à italiana” – extremamente caricatural, mas sem uma verdadeira assinatura de sátira social – tem nos seus protagonistas a grande mais valia, em especial nos “pais de serviço”, Frot e Clavier, que demonstram a capacidade de viajar entre a comédia ligeira e o drama, como o têm feito nos seus trabalhos mais recentes. Ela num registo de classe média ingénua (Frot a fazer de Frot), ele o típico mesquinho e egoísta (Clavier a fazer de Clavier) em transformação (ou cedência) em favor da família.

Quanto a Sébastien Thiéry e Pascale Arbillot, o duo cumpre como o surdo e cega de serviço, embora seja um daqueles casos em que estão sempre envolvidos em estereótipos e lugares comuns, onde o público ri deles e não com eles, tudo culpa de diversas piadas com mais ou menos bom gosto, onde acaba por ser a visita do pastor alemão de Arbillot a um médico um dos momentos mais engraçados.

De resto, ainda não é Momo a grande comédia francesa do verão, pois pelo que estamos a ver e pelo que tem cá chegado – Coexistir é outro exemplo – o cinema de estúdio francês parece mais entusiasmado em humor fácil e emoções repletas de sacarose sem grande empenho em nos fazer pensar. É cinema descartável, para ver, esquecer e passar ao filme seguinte. 


Jorge Pereira

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