Da História desta saga com mais duas décadas de existência (sem contar com a longevidade da série original o qual se inspirou), Christopher McQuarrie torna-se no único realizador a repetir a posse da batuta. Curiosamente, tendo em vista o anterior “Rogue Nation”, este “Fallout” (incrível como não houve tradução português do subtítulo) é um aprumo das revisitações. Ou seja, a experiência cometida com o quinto filme espelha-se como uma aprendizagem neste igualmente megalómano filão globalizado. Aliás, sejamos sinceros, “Mission: Impossible” é o exemplo de caricatura dos modelos hollywoodescos.

Mas vamos por partes, o absurdismo adquirido em todo este período produtivo implantado no próprio registo de “Fallout”. Há uma sensação de autoparódia. Existe um reconhecimento do ridículo culminado pelos elementos que forçam esta quimera de sequências de ação e até mesmo dos momentos dos lugares-comuns que pontuam em cada um dos capítulos. E McQuarrie fá-lo sem os estapafúrdios de John Woo e o seu infame segundo capítulo (sublinha-se, hoje visto como um produto do seu tempo). E nessas doseadas secreções de humor discreto e jubilante regista-se a grandiosa marca autoral hollywoodiana, hoje esquecida perante a dominância e facilitismo do CGI – os stunts.

Deparamos então com um concerto de acrobacias, um jogo sem fronteiras cujo único concorrente é Tom Cruise, que endereça a maior percentagem destes “duelos entre a vida e morte” (a sua lesão nas rodagens serviu automaticamente como marketing). Desde as escaladas vertiginosas, as quedas voluntárias e coreograficamente programadas, sim, “Fallout” vence por todo esse espetáculo old school, pela restauração da nossa crença numa Hollywood arriscada e analógica (pelo menos utilizando o mínimo possível de CGI na ação gratificante).

Entenda-se que do exercício de ação vertiginosa e frenética, “Mission: Impossible” não se ficou na sombra perante o valor de tais atributos técnicos e tacticistas. Christopher McQuarrie trabalhou sobretudo para interligar tais momentos através de uma rede de camadas, o qual constitui o guião, sempre pronto para relembrar os feitos passados da fasquia como uma utopia abastada. Sim, o argumento tende acima de tudo induzir-se no espírito quer da saga, quer do simbolismo da mesma. A tendência de ilusão tão presente no eterno jogo de máscaras é aludida nesta trama que cruza a espionagem e a sua contra-espionagem. “Fallout” é um exemplo de filme espião-duplo, incentivado, sobretudo, a induzir o espectador em erro em prol de outra ilusão.

Falando a verdade, Christopher McQuarrie concretizou um bem esgalhado enredo sem nunca perder o apetite pelo absurdismo nem da onipresença do subgénero de espiões. E já que falamos de experiências, “Mission: Impossible” tem separado gradualmente da sua postura “ressaca James Bond”, focando inclusive na grande fraqueza / marca das aventuras de 007, as mulheres. Fallout não inventa nesse sentido, mas demonstra a relevância do sexo feminino na ação, sem nunca desbravar os clichés e as associações fáceis. Como anexo a essa tendência, o regresso da formidável Rebecca Ferguson ao mais sólido papel anti-Bond Girl do recente cinema hollywoodiano.

Nada que realmente envergonhe a indústria e muito mais a evolução desta, Tom Cruise autorreconhece-se como um dos grandes do género sem nunca conduzir-se no arquétipo “one-army man”, nem mesmo ceder às fragilidades “millennials”. É de momento um dos apogeus das acrobacias cinematográficas, que não se via desde “Mad Max: Fury Road” (sim, esta declaração soa quase a cliché!).

Por agora deixo o aviso: esta crítica vai se autodestruir em 5 segundos. 5 … 4 … 3 … 2 … 1 …

 

Pontuação Geral
Hugo Gomes
missao-impossivel-fallout-por-hugo-gomesUm mimo de stunts e ação frenética e cinematográfica