Terça-feira, 19 Março

«Knock» (Um Senhor Doutor!) por Ilana Oliveira

Uma cinematografia belíssima a retratar o interior francês, a banda sonora e o carisma de Omar Sy fazem de Um Senhor Doutor! um filme tolerável. Novo trabalho de realização e argumentação de Lorraine Lévy, do bom Le Fils d’Autre, a longa-metragem conta a história de um médico que utiliza de meios não tão convencionais para atingir o sucesso após mudar-se para uma cidade localizada no interior do país.

Leveza é o que falta para a obra que peca em estereótipos de personagens e argumento indeciso. A viúva rica, a senhora tarada, o carteiro intrometido, o velho rabugento e o padre pecador estão todos aqui, além da jovem romântica que fora afastada do seu amor. Problema este que ocorre na adaptação do argumento baseado na peça Knock, ou o triunfo da medicina, escrito em 1933 por Jules Romain, já que o filme derivado torna-se datado pela superficialidade de seus personagens.

Levy faz uma tentativa de transformar o cerne da trama da obra original, mudando seu foco, e perde-se pelo caminho. Poderia retirar-se qualquer mensagem ou até “moral” sobre a história de Doutor Knock, caso sua autora não ficasse tão confusa sobre seu assunto. Racismo, abuso da medicina, hipocrisia social, jornada amorosa, ambição, tragicomédia?

Respiro aos espectadores a meio de quase duas horas intermináveis de filme, a atuação de Omar Sy faz quase com que esqueçamos as facilitações narrativas presentes em sua trajetória como médico e a evolução pífia de seu personagem. O seu carisma e alternância orgânica entre comédia e o drama cria o interesse sobre as possibilidades de seu futuro na trama, porém não há muito com que o ator consiga trabalhar.

Ao contrário do argumento, a banda sonora tem imensa dedicação ao criar temas para cada um das suas estereotipados personagens, trazendo assim uma identidade mais profunda a eles e uma camada adicional de interação para com o público. Em uma espécie de homenagem a músicos como Ennio Morricone (vale ressaltar seu trabalho em Aconteceu no Oeste, de Sergio Leone), coloca em cada um deles um timbre, ritmo, e até mesmo variações internas, diferentes.

Por fim, Um Senhor Doutor!, tenta em demasiado, mas consegue apenas ser interessante quando externaliza suas técnicas e definitivamente ousa, mostrando um belo jogo de câmaras, além de cinematografia bucólica, combinados com um bom ator principal e sua banda sonora, estes infelizmente apreciados apenas por aqueles que não se deixarem levar pelo argumento embaralhado, ou não durmam pelo desinteresse ao meio do caminho.

Ilana Oliveira




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