Terça-feira, 19 Março

«Taxi 5» por Jorge Pereira

Vinte anos após o lançamento do primeiro Taxi de Gérard Pirès e 11 anos depois do quarto filme da franquia, Franck Gastambide apropria-se dos códigos da franquia e transpõe para os tempos modernos um quinto capítulo que, apesar de ser superior ao último filme da saga, demonstra-se incapaz de revitalizar um franchise que tinha no triângulo amoroso Samy Naceri – o seu carro (um Peugeut 406 todo “quitado”) – a sua namorada (Marion Cotillard) o seu principal charme, e no humor simples e descomplexado o carburante para cenas de ação curiosas que lhe davam fulgor.

Na verdade, o “fantasma” de Naceri paira sobre todo este novo filme. Para além da sua personagem ser mencionada de forma icónica – e por consequência – o seu carro, o certo é que ele nunca nos abandona da memória, mesmo sabendo que detestou este Taxi 5 e que considerou um desrespeito não ter entrado nas contas da produção para além de ser um cameo.

A verdade é que o guião de Gastambide é demasiado pobre e simples como homenagem, e limitado como evolução do conceito, até porque as mudanças no esqueleto são mínimas, resumindo-se a um inversão dos papéis – o idiota agora é o condutor do Táxi e não o polícia, e este último vem de Paris para Marselha (numa espécie de Bem-Vindos ao Sul) ensinar os locais como se investiga. Taxi 5 sobrevive sim de situações isoladas, sketches cómicos tão bizarros como aquela em que uma polícia mais “cheinha” tentar travar os vilões saltando de uma ponte numa autoestrada. Surreal? Sim, mas de um jeito repetitivo e se a primeira piada não funciona, as seguintes em torno do mesmo assunto acabam por representar um suplício.

E se a fórmula buddy cop film está lá, ela é apresentada mais próxima de um The Rock e Kevin Heart do que de um Naceri e Frédéric Diefenthal, mostrando ainda mais que esta saga atualmente vive do esquematismo industrial e não do tentar ser diferente ou acrescentar algo, de alguma forma, em relação aos filmes antecessores.

Para piorar, todas as mulheres em cena são tratadas apenas de duas maneiras: ou meros objetos de desejo dos protagonistas, ou vítimas de paródia por gostos peculiares. Certo é que todas elas circulam à volta dos dois protagonistas masculinos como peões, o que não difere dos filmes originais, mas é demonstrativo da preguiça em levar tudo para um lugar melhor ou diferente. O mesmo se passa como os vilões. Taxi 5 tem algum sentido de autoparódia, mas é tão pouco arrojado na seleção dos criminosos e nas suas vilanias que estes funcionam apenas como bonecos de cartão estereotipados e estilizados numa fórmula tão vincada que qualquer outra pessoa podia estar no papel de qualquer um deles.

Jorge Pereira

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