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«Backstabbing for Beginners» (A Sombra da Verdade) por Jorge Pereira

A luta pelo idealismo é um dos focos de atenção deste A Sombra da Verdade, adaptação do livro homónimo de Michael Soussan sobre o escândalo que envolveu as Nações Unidas e o programa “Petróleo por Alimentos”, o qual – durante os anos mais duros do embargo internacional ao Iraque após a primeira Guerra do Golfo – permitiu ao país vender petróleo a troco de bens de primeira necessidade para a população.

E é com Michael que tudo começa neste filme, com as suas memórias do pai – morto no atentado à embaixada dos EUA no Líbano, na década de 1980. Cedo percebemos o peso do legado na figura do nosso protagonista, mas também a inspiração que representou para ele e incentivo em seguir carreira nas Nações Unidas. O seu primeiro trabalho é a coordenação do dito programa, mas logo após um primeiro relatório, o seu chefe, Pasha (Ben Kingsley), mostra logo de forma pragmática a ideia de fazer o “menos mal” num sistema já de si obsoleto e corrompido que atropela as ideias enraizadas de justiça plena.

O resto que se segue é um thriller político a meio gás carregado na ideia do “baseado numa história pessoal”, com diversos elementos que tentam dar densidade a texto e personagens, como um romance que vai intersectar esta história de capitalismo, poder e corrupção.

Em termos de interpretações, os atores cumprem os seus papéis, com Theo James a mostrar contenção e coração, enquanto Kingsley tem mais uma vez o registo da velha raposa, moldada num mundo onde as Nações Unidas revelam-se apenas no campo das intenções e não nos resultados (não é assim, ainda agora?).

Per Fly, o realizador, revela conhecer os códigos do género, tal como o argumentista Daniel Pyne (O Candidato da Manchúria; A Soma de Todos os Medos), mas nunca consegue realmente deslumbrar ou sair do registo tíbio, um pouco como Sydney Pollack em A Intérprete, onde cada ação é previsível até ao desfecho – não fosse esta uma história a partir de algo real com muito pouco para revelar.

Uma nota para a banda-sonora de Todor Kobakov, que canaliza a tensão como pode e tenta criar e instituir um nervoso miudinho no espectador, mas falta algo mais incisivo e menos derivativo para tornar o visionamento deste filme numa experiência mais enriquecedora que apenas e só um thriller genérico com poucas surpresas.


Jorge Pereira