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«How to Talk to Girls at Parties» (Como Falar com Raparigas) por Raquel Soares

Desde as primeiras cenas de Como Falar com Raparigas, em que o protagonista Enn pedala as ruas de uma Inglaterra dos anos 70 enquanto uma câmara frenética o segue e uma música punk explosiva o acompanha, que uma palavra apenas ecoava na minha mente para descrever o que se estava a desenrolar à minha frente: a palavra: Cool. E realmente o conceito deste novo filme realizado por John Cameron Mitchell é, de facto, cool. Juntar o punk ao extragalático é um conceito pouco visto, especialmente em filmes com atores desta envergadura. Infelizmente, um conceito original não serve para fazer um bom filme e este acaba por pecar na sua execução.

O filme encontra o seu primeiro problema na história, esta não passa de uma versão muito peculiar do clichê da maniac pixie girl, aquele tipo de enredo em que uma rapariga particular entra na vida de um rapaz para o salvar da sua vida enfadonha. O filme segue esta fórmula cansada até ao fim, o que fez com que o final deste fosse bastante previsível. Claro que a Elle Fanning salvou um pouco a coisa, a sua representação desta alien doce e inocente fez com que todos nós apaixonássemos um pouco por ela. A sua química com Enn estava muito presente, o que fez com que a relação entre os dois, apesar de sofrer mínimo desenvolvimento, fosse até bastante credível.

O filme sofre também da falta de foco. Apesar do filme ter apenas 1 hora e 45 minutos de duração, este poderia beneficiar de alguns cortes, uma vez que a meio da narrativa este parece mais preocupado em mostrar o máximo de elementos bizarros possíveis do que com a história que devia estar a contar (terá este problema advindo do facto de o guião ser uma adaptação de um conto [da autoria de Neil Gaiman] e do realizador arranjar forma da história ser suficiente para um tempo “normal” de uma longa-metragem?).

Apesar disto tudo, o Como Falar com Raparigas conta com alguns pontos positivos: como a banda sonora, que é uma fonte de energia, variando entre música punk dos anos 70 e sons meio eletrônicos alienígenas; o set design, que dá direito a planos que quase poderiam constituir peças numa galeria contemporânea; e as performances, quase todas bastante sólidas, onde os atores parecem muito dedicados aos seus papéis, não importando o quão estranhos estes fossem (a Nicole Kidman foi a exceção, alguma coisa na sua interpretação gritava ao falso e a exagero). A escolha do guarda-roupa, apesar de para mim consistir de escolhas um pouco redutoras e óbvias, também revela uma direção artística interessante que não deveria ser ignorada.

Como Falar com Raparigas não prima pela sua qualidade mas que constitui uma experiência cinematográfica que traz um pouco de ar fresco ao género.

Raquel Soares