Quinta-feira, 28 Março

«Blockers» (Os Empatas) por João Oliveira

Blockers é um filme que parece querer fazer a audiência pensar que se deparará com a típica comédia hollywoodesca a que estamos habituados, através do seu título e trailer, onde o riso é pouco e a noção de humor paira por lá porque assim tinha de ser. Não podemos negar que o filme não anda longe disso.

O filme é um cúmulo de banalidade cómica para os mais crescidinhos que junta o que aprendemos com American Pie e Ted num novo enredo com uma história original. Fora todos os elitismos; a atração principal deste filme será sempre John Cena, que tal como Dwayne Johnson, agora que desistiu do Wrestling, dedica-se a fazer comédias perecíveis, tal como esta. Não será um sucesso para a história nem se tornará uma referência entre os filmes de comédia, mas garante gargalhadas e situações cómicas – o que já é mais do que as comédias a que temos assistido nos habituaram a receber.

Em termos gerais, o filme é original, cada personagem é distinta das outras e não recorre a piadas previsíveis e gastas. É indiscutível que podia ter corrido muito pior do que correu e que toda a gente esperava que corresse; parte desse problema está no cerne do filme: é um filme sobre pais que querem impedir as filhas de perder a virgindade. O mundo em que vivemos é um mundo delicado e sensível a estes temas relacionados com a sexualidade e principalmente a feminina. Confesso que esperava chegar e ver ou uma visão insensata e alienada destes debates ou uma rendição absoluta à onda de sensibilidade político-social atual através de conversas moralistas. Um pouco como os primeiros vinte minutos do Black Panther.



Pelo contrário o filme maioritariamente foge a todo este mundo de guerras de sensibilidade, os pais estão a agir impulsivamente, e nos compreendemos isso então não questionamos a moralidade das suas ações; sabemos que estão só preocupados. Há, no entanto, dois momentos em que o filme aborda diretamente este assunto, o da sexualidade. O primeiro é terrível, assustou-me e pensei que seria a partir desse momento que todo o filme se tornaria moralismos baratos, já o segundo é muito bem conseguido. Este dá-se quando Kayla (Geraldine Viswanathan) pergunta a Mitchell (John Cena), seu pai, a razão de o sexo ser visto deste modo; o pai podia dar-nos um sermão sensível, mas o filme sabe que não o deve fazer, então apenas nos dá uma resposta que melhor pode ser descrita como honesta ou mesmo genuína: “I don’t know.” E o filme continua. Claro que eu compreendo a ironia de falar de genuinidade numa produção industrial de Hollywood, mas é sem dúvida uma resposta inteligente, tanto dentro como fora do filme, talvez seja mesmo esse o ponto alto do todo filme. Contrasta grandemente com o outro primeiro momento; aquele que me ainda hoje me faz tremer. Esse momento é protagonizado por Sarayu Blue (Marcie) onde, e digo de modos muito básicos, nos dá uma lição de moral sobre emancipação feminina. Felizmente as personagens fogem de lá à mínima oportunidade. Este momento existe porque tem de existir para que ninguém seja apedrejado na praça pública do Twitter.

No geral, o filme é banal e supérfluo e provoca aquilo que uma comédia tem de provocar, risos. Não é um filme inteligente ou pensado daí além porque nem todos os filmes têm de o ser e por vezes é bom entrar numa sala de cinema para rir e nunca mais pensar naquela hora da nossa vida; “from each according to his ability, to each according to his needs“. Recomendo? Bem, se não estiverem muito ocupados…


João Oliveira

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