De Alien a Pitch Black (Eclipse Mortal), passando por O TubarãoPredador, Jurassic Park ou até Signs (Sinais) de Shyamalan, poucas novidades em termos de enredo existem neste A Quiet Place (Um Lugar Silencioso), nova coqueluche do cinema de terror norte-americano que faz parte da linha de cinema de terror profundamente sensorial e fora de qualquer incursão sócio-política contemporânea à Get Out, regendo-se assim ao lado mais primitivo e orgânico do ser humano.

Num Mundo repleto de criaturas que reagem ao som (lembram-se de Tremors?), John Krasinski e Emily Blunt vivem com os seus filhos uma existência silenciosa que lhes permite sobreviverem num cenário apocalíptico que bem podia fazer parte do Universo iniciado por Cloverfield em 2008 e continuado em 2014 com o 10 Cloverfield Lane.

O que distingue este projeto de Krasinski dos demais é a forma como usando velhas e recicladas fórmulas, afastando-se dos elementos de humor, do ambiente Camp, Splatter ou do terrenos da homenagem, consegue tomar quase todas as decisões certas para ser extremamente eficaz e ao seu jeito envolvente.

E é curioso que num trabalho onde sobrevive quem não faz barulho – e onde predomina a linguagem gestual como rumo a essa sobrevivência – o trabalho sonoro adquira uma importância extrema, sendo mesmo usado como carburante da ação, da tensão e do medo, enquanto nos obriga – pela necessidade de maior expressividade física dos atores a criar uma maior empatia e a acreditarmos neles como uma família real em perigo iminente. Mas o mais fascinante aqui é mesmo o facto do texto e as palavras serem meros adereços, explorando o realizador todo o poder que torna o Cinema diferente da literatura, com a imagem e o som a explicarem porque são elementos fulcrais na 7ª arte, ao contrário da tendência cada vez maior de mostrar menos Cinema mas mais história, mais narrativa, mais texto.

Por tal, e por também não ter medo em sujar as mãos  em apresentar vítimas já de si frágeis, algo escasso no cinema comercial, principalmente no americano, percebe-se o estado de euforia que a crítica além fronteiras detém sobre esta peça. Porém, esse mesmo entusiasmo vem mais por demérito do cinema de terror que normalmente chega dessas paragens, do que pelas reais qualidades que Um Lugar Silencioso possui. Um filme tremendamente eficaz mas que não inventa absolutamente nem redefine o género.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
a-quiet-place-um-lugar-silencioso-por-jorge-pereira Um filme tremendamente eficaz, mesmo não inventando absolutamente nada nem redefinindo o género.