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«Sicilian Ghost Story» (O Fantasma da Sicília) por Jorge Pereira

Depois de terem conquistado a Semana da Crítica em 2011 com a história de um assassino que se apaixona por uma jovem cega – tudo trabalhado numa espécie de western noir contemporâneo – Fabio Grassadonia e Antonio Piazza regressam à mesma região neste Sicilian Ghost Story, filme que mistura o realismo, a fantasia e o romance adolescente. No (saldo) cômputo final acaba por nos entregar um produto engenhoso e visualmente belo, embora o claro pretensiosismo da realização o torne um objeto tão petulante como pseudo-poético – e muitas vezes enfadonho.

Pegando no caso real de um jovem sequestrado nos anos 90 como represália e forma de chantagem para um antigo mafioso transformado em informador das autoridades, Grassadonia e Piazza tentam aproximar-se do “realismo mágico” à lá Guillermo Del Toro com pitadas q.b. dos irmãos Polish (Northfork, por exemplo), invocando pelas entrelinhas um tom gótico de conto místico ao estilo dos irmãos Grimm (uma das cenas parece saída do capuchinho vermelho) e dando uma visão romantizada de um amor quebrado pelo crime, mas que sobrevive de forma omnipresente.

E os cineastas executam bem a tarefa na primeira metade da história, caindo depois em repetições, redundâncias oníricas e numa queda acentuada para simbolismos embelezados por uma estética extremamente cuidada. Esta parece querer nos forçar a crer que eles filmam muito bem, seja para Cinema, seja para o mercado dos videoclipes (há uns 2 pelo meio filme) ou até para pequenos comerciais quasi-turísticos (aquelas filmagens pelas ruínas a caminho do mar são tentativas frustradas e cansadas de dar dimensão e epicidade à região).

Na verdade, o que falha por aqui acaba por ser um pouco como a estreia de Ryan Gosling na realização do seu Lost River, com o duo a abusar dos truques e planos (plongée e contra-plongée em catadupa), no movimento da câmara e até nas objetivas usadas (e truques com estas). Assim, forçosamente sacrificam a narrativa, o ritmo e, consequentemente, a duração da obra para que possamos ver o showreel de cineastas que claramente sentem uma tremenda necessidade em se afirmar como realizadores – quando para já demonstram muito mais capacidade no argumento.

Uma oportunidade perdida que merecia ainda um polimento na montagem e, acima de tudo, uns belos cortes na presunção.


Jorge Pereira